Os sem-terra II
Euclides Neto
Tribuna da Bahia - Salvador - BA - 1998
Políticos, de todos os partidos (muitos da direita, por interesses menores e alguns da esquerda, até por idealismo mal concebido) juntam-se aos lavradores para colher a safra de votos.
Não esquecer, também, que um assentamento bem-sucedido vale mais que cem comícios na Candelária, mesmo para efeito eleitoral!!!
Todos devem ajudar os sem-terra, sem disputar os votos nas áreas da reforma. Caso contrário, começam a dividir os trabalhadores com as incompreensões partidárias, e aí fica difícil até as organizações das cooperativas. Defendam a reforma agrária no Congresso, nas Assembleias, nas Câmaras de Vereadores, nas repartições, nos palanques, mas deixem os assentados em paz. Se lá forem, façam uma pregação política correta, esclarecendo que escolham os que possuem uma história comprovada em defesa dos lavradores. Nunca semeiem a dúvida, pois eles passarão a ser presa fácil para quem na véspera de eleição troca o voto por uma rapadura, mais doce que a intriga dos partidos.
Os sem-terra sabem que devem fiscalizar os companheiros no momento do assentamento. Ninguém melhor que eles conhece os que não têm tradição de roça, sob pena de desmoralizar a reforma agrária. Quando um assentado erra, não importa que 99 acertem. Existem mil olhos, inclusive da mídia para denunciar. Poucos reconhecem o bom resultado, ainda por vício de formação histórica, que não expeliu o resto do parto da escravidão.
Não esquecer, também, que muita gente boa, até defensora do movimento, anda grilada quanto ao modelo que estamos adotando. Com a moda chique da globalização e lucratividade, acham que só a megaempresa, neocapitalista liberal é capaz de competir na produção. Desconhecem que a agricultura familiar é de interesse social, que termina no benefício da sociedade como um todo, e que mais emprega. Tais pessoas, com a melhor das intenções, querem a grande mecanização, que visa mais vender as máquinas, aplicar tecnologia de ponta, onde as escolas de formação agrícola estão plantando milho no quadro-negro e nos gordos compêndios, salvo algumas. Onde o governo asfalta a chegada, iluminando feericamente pátios de Escola Agrícola, porque são obras que aparecem, mas não contribui com um saco de ração para algumas poedeiras, que um teimoso e ridicularizado professor teima em criar para dar aulas práticas.
Lembrar-se sempre: uma área de assentamento deve ser escola informal. Ali os vizinhos tradicionais vão aprender a vacinar os animais, adubar, usar sementes melhoradas, sempre conversando com os companheiros, convencendo-se que está dando certo. Ouvindo os técnicos. E é escola também de cidadania. Palavra final: Trabalho, União!!!