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Leucena

Euclides Neto

A Tarde - Salvador-BA - 1995

Já vimos aqui no sul do estado em que deu a euforia de plantar cravo, com os cálculos mirabolantes de que um hectare rendia mais que outro de cacau, quando cacau era ouro em pó e parâmetro para medir o desempenho das outras lavouras. Depois veio o guaraná — um quilo valia uma fortuna. Taca gente a plantar as árvores que frutificavam dinheiro. E o argumento: é para exportar em dólar, viu!

 Tudo isso desavisadamente, por entusiasmo de alguns técnicos bem-intencionados, em busca de novidade. Mas sem vivência. Hoje, não pagam a colheita. Muito dinheiro jogado fora e terras ocupadas sem resultado econômico.

Agora, no semiárido, há o entusiasmo da leucena e da algaroba, também recomendadas indiscriminadamente por teóricos. Já pensei também assim. Todos  sabem das excelentes qualidades proteicas de tais cultivares. Contudo, precisamos tomar cuidado. Nem uma nem a outra vegetam e frutificam com a facilidade que os “entendidos” propalam. Só quem já as plantou na caatinga sabe que não são milagrosas, e que, durante a estiagem forte, não bageam satisfatoriamente. Com sol mais rigoroso — e não precisa ser igual ao dos últimos anos — não suportam a falta de água. As plantas novas e jovens morrem. As adultas não produzem a contento.  

A literatura acadêmica é um perigo. (Ah! literatura que tem levado muita gente a comprar o que não precisa, sementes que não prestam, máquinas que não são usadas. Sobretudo os neófitos, que adquirem a fazenda, remoem revistas propagandistas de produtos agropecuários e ainda saem dizendo que os lavradores tradicionais são ignorantes, atrasados, daí não terem sucesso. Compram, compram, compram, no consumismo agrícola. Depois levam a vaca ao brejo e nem mais acham o que investiram na propriedade. Aí saem afirmando que tiveram duas alegrias: uma no dia que a comprou e outra ao vendê-la).

Algaroba e leucena exigem terra boa e um pouco de chuva. Ninguém se engane com os pés da beira dos chiqueiros, currais e fundos de casa alimentados pelos adubos orgânicos. São os “xeretas”, viçosos e produtivos, mas dependentes de comida farta. Não faz mal tomar cuidado ao cultivá-los fora de tais lugares. Ninguém deve arriscar-se em grandes plantios. Pode ter prejuízos, como já aconteceu comigo.

A mais segura é a palma, que se planta no estio de agosto. Às vezes murcha, quebra, mas com qualquer neblina volta a produzir. O sertanejo que a abandonou, porque as revistas e “sábios” disseram que era pobre em proteínas e sais minerais e só continha água, agora volta a lavrá-la. Verificou que as rações peletizadas das propagandas são muito boas, contanto que, dado ao custo, se venda uma vaca para salvar a outra. Quem já usou palma sabe: é pobre de tudo como dizem, mas dá leite, mantém o criame nos períodos mais críticos da insolação. E, por ter muita água, só por isto, já vale a pena tê-la no semiárido.

 

 

 

ilustração: Adrianne Gallinari
Euclides Neto
Euclides Neto: Escritor, advogado e político da região de Ilhéus (1925-2000).