Comercialização de cacau
Euclides Neto
A Tarde - Salvador-BA - 1995
Desde que me entendo por gente, ouço dizer que de comercialização de cacau ninguém sabe nada. É uma roleta! Nós, tabaréus, conhecemos a terra boa para o plantio (com virote, pau-d’alho-oco, araçá-d’água, bananeira-brava). Desde o tempo em que se usava o espontão, furavam-se três buracos na cabruca, para onde iam as sementes. Depois veio a Ceplac e nos ensinou a fazer as mudas nos saquinhos, zelando-as até que pudessem ir para as covas definitivas, cavadas dois palmos por dois. Da desbrota, da roçagem, da colha, da secagem, também entendemos. Descobrimos que cacau se deve vender quando está pronto para fazer a média da safra. Lidamos com tudo isso há quase 70 safras. Era menino quando vi meus pais e nove irmãos sermos postos no olho da vila mais próxima da pequena fazenda da família, com dois trabalhadores que nos acompanharam toda a vida. Mais da metade desse tempo advogamos para lavradores, usando as leis possíveis em favor dos executados e excutidos, presa fácil dos intermediários.
Disso entendemos. O que não entendemos e gostaríamos de ter uma explicação de quem sabe: por que a industrialização de toda a nossa produção será prejudicial para a lavoura, se o ideal dos produtos primários é ser beneficiado perto da roça, agregando outros valores, inclusive mão de obra? Por que a regra não serve para o cacau, se a demanda interna aumentar até absorver toda a colheita e deixássemos de exportar os grãos?
Fico preso nas teias de aranha da ignorância, confesso humildemente. As nossas indústrias devem ter mais empenho em proteger quem lhes alimenta as máquinas que os simples exportadores de amêndoas, meros especuladores?
Para nos libertarmos das teias de aranha, só vejo um meio: o cooperativismo. O lavrador entrega a safra na cooperativa, que substitui o intermediário, levando-a para a sua própria indústria beneficiadora, ou exportando-a. Fechando assim o ciclo, que se inicia na roça. Sem atravessadores. Sem esquecer a cooperativa de crédito.
O que equivale a dizer: o ideal seria que tivéssemos várias Itaísas, processando e distribuindo as sobras pelos seus associados. Essa a esperança, depois de vencermos a indústria e exportadores de grãos, que brigam entre si, mas, no momento do lucro, se juntam como irmãos colaços, negando a história de que eles, ao se reunirem, jamais tratam do preço do cacau a ser oferecido aos lavradores. Aí teríamos condições de até lutar contra a lei da oferta e da demanda, já que, como está, um reduzido grupo é capaz de, com a ambição do lucro desmedido, revogá-la ao seu gosto. Quando Smith e Say elaboraram a tal lei não havia cartel.
Para tanto, só depende da nossa capacidade de organização, que precisamos ter.
Fazemos um apelo a Thomas Hartmann, grande defensor da lavoura e também fazendeiro: use o talento, a competência e o espaço de que dispõe para ajudar o cooperativismo na região cacaueira. Creio ser esta a única solução.