Max Bandeira
Orelha em “Birimbau” - segunda edição - 2012
Filho de fazendeiros e estudante de Direito que volta à terra natal para escrever uma estória, Mário é o protagonista de Birimbau, obra primogênita de Euclides Neto, a qual já veicula uma ousadia ortográfica: a supressão do “h” não pronunciado do início das palavras. Narrado ora em primeira, ora em terceira pessoa, o texto descreve a evolução da colonização cacaueira e seus diversos personagens: fazendeiros, trabalhadores rurais e suas famílias. No encontro entre o Rio das Contas e seu afluente Rio da Água Branca, Mário se lembra de episódios do seu passado, sentindo-se incomodado com o cenário presente. Com o desejo de recuperar na infância o melhor de sua existência, o protagonista monta seu romance mentalmente, descreve o que vê e por vezes se remete, de forma leve e nostálgica, aos acontecimentos de sua vida de menino. Em Birimbau, merece destaque o interessante personagem Mata-Onça, velho aleijado morador da roça de cacau, que realça o imaginário popular com suas histórias quase reais. Seus contos são pequenas amostras do encanto rural do folclore do sul da Bahia. Personagens desse gênero permeiam toda a obra e demonstram, já no romance de estreia, a prematura habilidade do escritor na exploração literária das diferentes individualidades regionais, do que resulta um retrato fiel, mas não por isso estéril, do meio ambiente humano sul-baiano. Tanto na terceira pessoa de Birimbau quanto na primeira do romance de Mário, há a sensível descrição da vida de trabalho duro que os nativos levavam, juntamente com uma fina percepção da exploração econômica do trabalho.
Além disso, sobressai na obra o esforço do autor em registrar, eternizando sua beleza poética, as canções populares regionais da época retratada, mas também a linguagem do povo explorado das roças de cacau em formação. Assim, Euclides Neto inclui no romance suas inquietações, antevendo o leque de questões sociológicas que surgiriam no período do auge do cacau. Neste universo retratado fotograficamente, o escritor não apenas descreve as profundezas da vida rural no sul da Bahia, como transforma Birimbau em um relato ao mesmo tempo sutil e provocante da exploração e das vivências do seu tempo que, pontualmente, ainda podem ser observadas nos dias atuais.