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Prezado Possidônio.

Euclides Neto para Antonio Possidônio Sampaio

Ipiaú - Ba - 1980

 

                Vivente nas matas do cacau desde os cueiros, fantasiava o que seria a nação do automóvel, sem jamais imaginar que lá, como cá, o drama da miséria humana é tal e qual. Cheguei mesmo a conceber uma quase “burguesia” proletária, vendo nos trabalhadores das fábricas dos fordes e chevrolets como uns privilegiados, quase barões do trabalho. Assim como quando se fala no lavrador de cacau vem a ideia de opulência, banhos em cavalos com cerveja, ruas calçadas com moedas, coisas do mito da árvore dos frutos de ouro...

“A Capital do Automóvel”, contudo, me deu a marcação exata da angústia em que vivem os Januários e Germanos. Livro bem polido, sem requintes nem luxos, mais “pé-de-boi” de “utilitário” fornido para o trabalho, firme, estruturado na realidade dos que têm “ponto” e, o pior, dos que não o têm. Diria mais: livro duro, sem adjetivos, parecendo mais de aço que de coisas amolengadas. Fica-se com a impressão de que os tornos apertam mais as criaturas que as barras de aço.

                Tenho o hábito de ter à cabeceira dois ou três leituras palpitantes do momento. Inclusive Isto É, Veja. Apetitosa leitura. Agora, lia também o Casa dos Espíritos, de Isabel Allende. A Capital venceu a todos, e por ela andei de uma estirada, curioso, descobrindo minha ignorância nas coisas daí. Documento admirável de vivência humana, válido sob todos os aspectos: literário, político, social. Gostoso de ler. Atraente. De assunto tão árido você conseguiu o milagre de atrair o leitor como o ímã às limalhas de ferro.

                Muito obrigado. E agradecido também pelo jornal O Escritor, que há pouco recebi.

                Mando-lhe a ficha de inscrição que também me veio. Agradeço a oportunidade que dá ao tabaréu. E, merecendo, sentir-me-ei honrado em pertencer à UBE.

                No começo de novembro estarei em São Paulo. Gostaria de vê -lo.

 

O abraço do

Euclides Neto

 

ilustração: Adrianne Gallinari
Euclides Neto
Euclides Neto: Escritor, advogado e político da região de Ilhéus (1925-2000).