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Waldir Pires

Euclides Neto

Folha do cacau - Camacan - BA - 1985

Se eu pudesse faria um programa intitulado a Semana da Vergonha. Melhor um mês. Quiçá um ano. Só para comemorar o feito do baiano das Amargosas. Com banda de música, quebra-pote, desfile, reis, mulinha de ouro, bumba meu boi, representação em circo, palcos, cartazes pregados nas paredes, rádios televisão nem se fala, discursos, recitais, militar na rua, com faixa no peito, carneirinho. Cachorro, não. Convocaria até o TFP para alardear com microfones, bandeiras (e ridículo) o acontecimento. Seminários, conferências, palestras. Bandeirolas, esfinge em moeda de nica ou papel. Em selo. Trio elétrico. Estátua. Escudo de lapela. Camiseta. Marca de carro. Chaveiro. Agenda. Cartão de Natal. Fita do Senhor do Bomfim. Nome de besourinho. Nome de gripe. Vasculharia este País inteiro a anunciar o DIA DA VERGONHA. Galhardamente.

Refiro-me à vitória de Waldir Pires. Sem espalhafato, silenciosamente. Armando suas ratoeiras, bem verdade, mas sem trombetas.

Quando ocorre um fato desagradável como o do Abi-Ackel, os jornais e televisões empenham-se em escandalizar, transformando-o em mártir do sensacionalismo. E de tanto o mineiro sagaz ser acusado e a Justiça não encontrar prova eficaz para a condenação, termina virando santo.

Agora, o que o Ministro Waldir Pires conseguiu só é noticiado com discrição, mesmo assim trazendo fatos que levantam até dúvida quanto ao mérito do admirável trabalho. Precisamos anunciar o maior feito da Nova República! E um dos grandes de todos os tempos. Porque é o símbolo de que o trabalho sério pode resolver o que é insolúvel para os vencidos e corruptos.

Dizia-se: só no outro século a Previdência regularizará as suas contas. Se regularizar! Outros: não há homem que o consiga. Pois bem: sem carecer mudar de sigla (leia-se nome) para esconder o criminoso, o Ministro, em nove meses, gestou o milagre. Neologizou o verbo zerar. E de quebra anuncia um trilhão em caixa. Sobra. Para outra etapa.

Deve estar incomodando a muitos. Sobretudo porque foi cassado em 64 como imprestável e vem, vinte aninhos depois, corrigir a falcatrua dos salvadores da pátria.

Segurem o pé, Senhores Ministros! Depois de consertar o caos da Previdência, não há desculpa para que os outros ministérios não encontrem solução para equações bem mais simples.

Só os incomodados ou cegos não acreditam em Waldir Pires para qualquer cargo no Brasil.

Inclusive a Presidência, pois não.

Pena que sendo homem de bem, “não tenha a audácia dos canalhas”.

ilustração: Adrianne Gallinari
Euclides Neto
Euclides Neto: Escritor, advogado e político da região de Ilhéus (1925-2000).