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Vale a pena

Euclides Neto

Jornal da Bahia - Salvador - BA - 1988

 

Quando se imagina o povo alienado, capaz de ser conduzido pelas fanfarras, populismos e obras eleitoreiras, demonstrando incapacidade de escolher um candidato respeitável, vem a surpresa para os que não acreditam na sabedoria das massas. Enganam-se os que imaginam que elas querem somente a cachaça, a pelada, a indolência, a total irresponsabilidade. Pelo contrário: amadureceram. Preferem Rômulo Almeida na Prefeitura de Salvador, apesar dos muitos e significativos candidatos existentes.

O mestre não fala lantejoulas, não eleva a voz, seus passos não ecoam no chão como as reúnas, seu riso é tão discreto quanto suas vestes. Sua presença em qualquer lugar é como o silêncio respeitoso de uma catedral. Um homem sem cheques gordos, nem promessas, nem ruídos. Sem o heroísmo tonitroante dos que surgem e se apagam como as luzes assanhadas dos trios elétricos. Um discreto quanto às suas próprias ações. Não vai a enterros, aniversários, batizados, passeatas, lavagem de degraus, não dá tapinhas para conquistar adeptos, não diz "olhem, eu cheguei!" Parece um tímido recolhido na sua probidade. É como se ninguém o conhecesse, tal o seu trabalho silente. Não disse que é candidato, não pediu apoio, não riscou muros nem encheu os cartazes das encruzilhadas. E o povo simples da periferia não ficou siderado pelos oferecimentos, luzes, penachos, favores oblíquos. Foi buscar a sua verdade, a pérola de sua confiança, a sabedoria — o cidadão Rômulo Almeida, um jovem, a chamada reserva moral, pois não. Lá longe, distante, no Rio de Janeiro, na árida carteira de economista do BNDES, quase escondido, escondendo-se, com certeza, fugindo à ribalta.

Que fez o cidadão Rômulo Almeida durante mais de meio século de vida pública? Andou com as mãos cheias de bons grãos, que semeou pelos caminhos. São as obras projetadas e estimuladas. Não perguntou quem colheria os frutos nem se preocupou com os resultados para si. Nos momentos tortuosos da vida nacional esteve presente, lutando, antepondo-se ao mal, aos plantonistas. Sua palavra macia, mas incisiva, apareceu nas horas graves. Contudo, é tão modesta a sua figura que imaginamos ser ele desconhecido do grande povão da periferia que, cansado de tudo, descrente dos que se jactam de serem donos das certezas, do poder, da glória, da popularidade, eis que a humilde gente, com a ciência eterna das verdades, indica o símbolo Rômulo Almeida.

Por quê?

Vale a pena, pois, viver como Rômulo Almeida, seguir seu exemplo, acreditar na probidade, na honradez, na vida digna. Vale a pena lançar as sementes pelos caminhos. Um dia elas germinarão. Não perguntem quem colherá os frutos.

Rui estava errado naquela afirmativa pessimista de que haveria tempo do homem ter vergonha de ser honesto.

Aí está o povão demonstrando que vale a pena — olhem bem os jovens! Vale a pena ser como Rômulo Almeida, sem truque, nem batuque, nem golpe, nem manobras pelas sombras do escuro.

Volta-se a crer no sério, na ética, nos bons costumes. E o exemplo aparece das classes mais despossuídas.

Estava demorando de chegar!

Não se fala aqui de partido, de eleição, de apoio político. Ressalta-se o gesto para que muitos ponham as barbas de molho.

E aprendam! E tenham fé.

 

 

 

 

ilustração: Adrianne Gallinari
Euclides Neto
Euclides Neto: Escritor, advogado e político da região de Ilhéus (1925-2000).