Uma questão de bom senso
Euclides Neto
Tribuna da Bahia - Salvador-BA - 1993
As oposições deram uma demonstração de amadurecimento. A filiação do deputado federal Waldir Pires e do seu grupo político ao PSDB, na sexta-feira, deixou clara a perspectiva de uma união entre as correntes políticas contrárias ao governador Antonio Carlos Magalhães. A julgar pela sinceridade dos discursos, se constrói na Bahia uma aliança sólida capaz de derrotar o que eles mesmos consideram inimigo comum. Waldir e Jutahy Magalhães Júnior têm, até aqui, se despojado de vaidades pessoais e aspirações mais íntimas em prol de um objetivo mais amplo. Eles se unem num momento de definição. É bom que não seja o contrário. Senão estariam fazendo o jogo do adversário. Nenhum dos dois é menino e sabe perfeitamente qual o caminho a trilhar.
Sem rodeios, o caso é o seguinte: Waldir quer o fim do carlismo na Bahia; Jutahy deseja a mesma coisa. As demais forças oposicionistas que me desculpem, mas sem esses dois componentes — Waldir e Jutahy — não irão para lugar algum. Não basta apenas ter boas intenções. É preciso possuir peso eleitoral. Sem isso, pouco importa ficar esperneando, a lamentar o leite derramado. Se a intenção de juntar as oposições for algo acima dos interesses pessoais e partidários, a fatura está liquidada. O carlismo e o senhor Antonio Carlos Magalhães deixam de existir — ou, na pior das hipóteses, deixam de incomodar as oposições.
Vamos aos fatos: numa eventual candidatura de Waldir ou Jutahy — a princípio são esses os nomes mais em evidência — haverá, sem dúvida, um maior poder de aglutinação. É simples:
“As oposições só não se ajustam agora se não quiserem. E, se não der certo, vai ser nada menos que um gesto de falta de consciência”
a um dos dois — ou aos dois, caso eles se revezem na chapa majoritária — se achegarão nomes de peso eleitoral como os de Roberto Santos, Nilo Coelho e, possivelmente, João Durval. Isso sem contar com o senador Jutahy Magalhães. Queira ou não, são quatro ex-governadores que ainda têm muita influência sobre o eleitorado. E um senador considerado dos mais corretos e de posições mais coerentes no Congresso Nacional. Além do mais, há o peso de Jutahy Jr, que até lá será ex-ministro e com um vasto trabalho a ser apresentado à população. Tudo isso sem falar dos nomes de peso dos candidatos a deputado federal e estadual. Enfim, a oposição está com o garfo e a faca na mão. Só resta saber administrá-los.
Ia faltando: Lídice da Mata está aí para reforçar esse time. As oposições só não se ajustam agora se não quiserem. E, se não der certo, vai ser nada menos que um tremendo gesto de imbecilidade, de falta de consciência política. A verdade é que Antonio Carlos Magalhães é ele só. Não há uma liderança no seu meio. Todos são frutos da alquimia que o governador operou até aqui. Sem a figura do chefe, o seu candidato, seja quem for, cai no ostracismo, fica a ver navios. Sem ACM, o seu preferido vai acabar adormecendo na esquina sem ter, sequer, um colo para chorar. É triste, mas é a realidade. A oposição tem obrigação de saber disso. Se não sabe, vá preparando-se para continuar oposição.