menu play alerta alerta-t amigo bola correio duvida erro facebook whatsapp informacao instagram mais menos sucesso avancar voltar gmais twitter direita esquerda acima abaixo

Terceira Carta (ou bilhete) ao Dr. João Carneiro, digníssimo Governador do Estado da Bahia

Euclides Neto

Folha do cacau - Camacan - BA - 1986

Meus cumprimentos.

Não queremos acreditar, Dr. Carneiro, que o senhor se esqueceu da ESCOLA MÉDIA DE AGRICULTURA DE IPIAÚ. Entre os seus momentos de insônia pelos problemas de consciência, deverá surgir a sua promessa formal de edificar a mais justa ambição desta terra. E não é possível que o senhor seja insensível aos reclamos dos conterrâneos de Clériston Andrade.

Não acreditamos que alguém, chegando ao Governo do Estado, fique preso a picuinhas políticas, inticanças de fundo de quintal.

Até Antônio Carlos Magalhães ameaçou em praça pública, em alto e trovejante brado, que iria construí-la. E nós acreditamos. E nos violentaram quando votamos no candidato dele àquela época. Fomos ludibriados. Passou a eleição, e a promessa ficou no vazio.

Esta é a terceira carta que lhe endereçamos. Continuamos a admitir que o senhor não recebeu as outras, em razão da falta de resposta e sabermos que um Governador deve, ao menos, ser educado. Aliás, se as correspondências do Sr. Ministro da Justiça o senhor disse que não recebeu, quanto mais um descolorido bilhete do mais modesto cidadão.

De qualquer modo, continuamos com esperança de que o empenho da palavra seja cumprida. É que esta, aqui, ainda tem um peso. Não há mais desculpa: o dinheiro fornecido pela Caixa Econômica, dirigida por um peemedebista, aí está, e, nem de leve, queremos acreditar em represália ou, o que é pior, que será desviado para a sua campanha política. Ocorreria supina malvadeza endurecer a cabeça, impedindo obra de tal utilidade. Este bilhete está sendo publicado quando existe a possibilidade da sua presença aqui. Seja bem-vindo! Não podemos tolerar, contudo, a sua indiferença: o senhor pode até se dar ao luxo de ser vingativo, jamais de ser perverso.

 Vindo, não pense que nos enganará mais uma vez, com novas promessas de que fará a Escola antes das eleições, ou que seu sucessor (se… se… se…) a edificará, como tem acontecido em tolos municípios, que esperarão sem resultado a obra mais desejada e pedida. O senhor tem feito isso por onde passa. E sua palavra está mareada. Não adianta mais colocar placa, pedra fundamental. Este recurso desmoralizou-se. E é bom explicar a razão pela qual a Estação Rodoviária, depois de pronta, teve de gastar, na recuperação, mais do que seu custo total.

De qualquer modo, seja bem-vindo.

Respeitosamente,

Ipiaú, 26/08/86

 

ilustração: Adrianne Gallinari
Euclides Neto
Euclides Neto: Escritor, advogado e político da região de Ilhéus (1925-2000).