Terceira Carta (ou bilhete) ao Dr. João Carneiro, digníssimo Governador do Estado da Bahia
Euclides Neto
Folha do cacau - Camacan - BA - 1986
Meus cumprimentos.
Não queremos acreditar, Dr. Carneiro, que o senhor se esqueceu da ESCOLA MÉDIA DE AGRICULTURA DE IPIAÚ. Entre os seus momentos de insônia pelos problemas de consciência, deverá surgir a sua promessa formal de edificar a mais justa ambição desta terra. E não é possível que o senhor seja insensível aos reclamos dos conterrâneos de Clériston Andrade.
Não acreditamos que alguém, chegando ao Governo do Estado, fique preso a picuinhas políticas, inticanças de fundo de quintal.
Até Antônio Carlos Magalhães ameaçou em praça pública, em alto e trovejante brado, que iria construí-la. E nós acreditamos. E nos violentaram quando votamos no candidato dele àquela época. Fomos ludibriados. Passou a eleição, e a promessa ficou no vazio.
Esta é a terceira carta que lhe endereçamos. Continuamos a admitir que o senhor não recebeu as outras, em razão da falta de resposta e sabermos que um Governador deve, ao menos, ser educado. Aliás, se as correspondências do Sr. Ministro da Justiça o senhor disse que não recebeu, quanto mais um descolorido bilhete do mais modesto cidadão.
De qualquer modo, continuamos com esperança de que o empenho da palavra seja cumprida. É que esta, aqui, ainda tem um peso. Não há mais desculpa: o dinheiro fornecido pela Caixa Econômica, dirigida por um peemedebista, aí está, e, nem de leve, queremos acreditar em represália ou, o que é pior, que será desviado para a sua campanha política. Ocorreria supina malvadeza endurecer a cabeça, impedindo obra de tal utilidade. Este bilhete está sendo publicado quando existe a possibilidade da sua presença aqui. Seja bem-vindo! Não podemos tolerar, contudo, a sua indiferença: o senhor pode até se dar ao luxo de ser vingativo, jamais de ser perverso.
Vindo, não pense que nos enganará mais uma vez, com novas promessas de que fará a Escola antes das eleições, ou que seu sucessor (se… se… se…) a edificará, como tem acontecido em tolos municípios, que esperarão sem resultado a obra mais desejada e pedida. O senhor tem feito isso por onde passa. E sua palavra está mareada. Não adianta mais colocar placa, pedra fundamental. Este recurso desmoralizou-se. E é bom explicar a razão pela qual a Estação Rodoviária, depois de pronta, teve de gastar, na recuperação, mais do que seu custo total.
De qualquer modo, seja bem-vindo.
Respeitosamente,
Ipiaú, 26/08/86