Prezado Escritor José Saramago
Euclides Neto para José Saramago
Ipiaú - Ba - 1992
Só agora tomei conhecimento de que a Editora Guena § Bussius Editora Ltda. do Brasil solicitou a você uma “orelha” (badana) para o meu livro “Os Magros”, a ser lançado em breve.
Se soubesse antes da insolência, não a teria permitido. É que imagino os seus compromissos, sobretudo os de ordem internacional.
Quando da sua passagem por Salvador, em comitiva oficial (ocupava eu a Secretaria de Reforma Agrária do Estado da Bahia), disse-lhe, na presença do eminente Mário Soares, que o nosso idioma fora construído por Camões e adornado pelo Eça de Queiroz. E você estava retocando-o com sangue, nervos e suor. Inegavelmente, os três maiores da língua. Mandei-lhe, àquela época, o também romance “Machonbongo”, repetindo esses dizeres na dedicatória. Não o entreguei pessoalmente porque, ao que me informaram, você se antecipara no retorno. Daí tê-lo feito por intermédio de alguém que ainda estava no aeroporto, também da comitiva, no momento da despedida.
Vendo-o, pois, nessas alturas, jamais o importunaria com a solicitação. Seria grosseria da minha parte.
Logo que saiu, li o “Evangelho Segundo Jesus Cristo”, como, de resto, conheço todos os outros livros seus. Você está conseguindo quase o impossível: manter o diapasão das suas obras, sempre em crescendo.
Como não sei se o “Machonbongo” lhe chegou às mãos, permita-me mandar-lhe outro exemplar.
Tomo ainda a liberdade de incluir o comentário de Dom Timóteo (figura venerada na Bahia por haver protegido todos os presos políticos durante a última ditatura brasileira). A Tarde é o maior jornal do Norte-nordeste do Brasil.
Ainda com desculpas, mas afetuosamente,
Euclides Neto