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Petrobrás

Euclides Neto

A TARDE - Salvador - BA - 1995

 

                A geração dos mais velhos cresceu com a Petrobrás. Faz parte da vida de cada um de nós. Ouvimos o gringo, chamado para nos assessorar tecnicamente, firmar que não tínhamos petróleo.

                Mas já em 1864 o governo imperial brasileiro concedia autorização ao Inglês Thomas Denny para pesquisar o óleo, cinco anos após o americano Edwin Drake ter aberto o primeiro poço em Titusville, EUA.

                Em 1931 Monteiro Lobato funda a Companhia Petróleo do Brasil, com títulos de subscrição pública. Em 1933 chega a extraí-lo do poço de Araquá, na Bahia. Em 1934 percorre o país denunciando as manobras dos trustes estrangeiros. Em 1936 escreve e publica “O Escândalo do Petróleo”. Traduz o livro de Essad Bey, “A Luta pelo Petróleo”. Em 1941 vai preso, incomunicável, por haver criticado a política de Getúlio Vargas sobre o combustível. O afamado escritor, conquanto combatesse Karl Marx, entra no rol dos comunistas, que defendiam os mesmos ideais sobre o assunto.

                A livre iniciativa acabou em 1938. E o monopólio estatal foi definido pela Lei 2004 de 1953.

                Enquanto os interesses das grandes empresas estrangeiras não eram incomodados, houve tolerância. Até que a Petrobrás tomou corpo. Iniciou-se, então, uma campanha solerte, caluniosa, repetitiva contra seu sucesso. Acreditavam que nossos técnicos – hoje também patrimônio – seriam incapazes de vencer as dificuldades. Enganaram-se. Conseguiram o contrato de risco – primeira violentação. Deu em nada. Os nossos tupiniquins continuaram a perfurar poços, surgidos, já agora, nos pontos cardeais do Brasil.

                Inventam a “flexibilização” cumprindo preceito do neoliberalismo. O que pretendem’, mesmo é quebrar a espinha dorsal da Perobals, acusando-a ainda de incompetente, corporativista e corrupta. Como se a maioria dos que a condenam não fosse corrupta, incompetente e corporativista.

                Nomes como Waldir Pires e Josaphat Marinho – adversários políticos, mas insuspeitos – defendem-na. Não adianta.

                Depois de tais comentários, vale a pena reproduzir o diálogo a que assistimos recentemente entre dois empreiteiros. O mais novo, ainda inocente, perguntou:

                – Você vai à concorrência da Petrobrás?

                – Não. Prefiro a do município de ... – respondeu o empresário velho.

                – Mesmo a Petrobrás pagando em dia, honrando seus compromissos, o que não acontece com as prefeituras?

                – Mas ganha-se pouco, os preços são miseráveis. Troca-se dinheiro. Esse é o problema da Petrobrás. Já vem com custos tabelados. Não dá nenhuma margem de negociação.

                Então perguntamos:

                – O que se chama de negociação é o superfaturamento?

                O empresário velho desconversou.

                – Discutam centavo a centavo.

                Será que tudo isso não vale nada?

 

 

 

 

 

ilustração: Adrianne Gallinari
Euclides Neto
Euclides Neto: Escritor, advogado e político da região de Ipiaú-BA (1925-2000).