Os pássaros marinhos têm asas longas
Euclides Neto
A TARDE - Salvador - BA - 1995
Já estávamos sentados na sala de aula da Escola de Direito, há meio século. Entra o professor, quase menino, todo vestido de branco, espigado e confiante.
Transmitia segurança, ética, coragem cívica, virtudes indispensáveis ao desempenho da nossa futura advocacia. Era uma continuação das ideias mestras do melhor Rui Barbosa, no culto à legalidade. E seguidor do inigualável Nestor Duarte, ainda vivo àquela época, “ensinando mais com o exemplo que com a palavra” a todos nós.
Acompanhamos os passos de Josaphat Marinho. Veio o pleito eleitoral para governador. Conquanto se tivesse filiado a um partido que não era o nosso (Brasil, País dos Contrastes, de Roger Bastide: um socialista no PFL), do qual fazíamos restrições, como ainda as fazemos, ficamos na esperança de que tudo não passava de um tropeço, como em toda caminhada humana. Escrevemos, então, neste mesmo espaço, um artiguete intitulado "A Bahia Sublimou-se". Sustentamos que o nosso estado jamais tivera, ao mesmo tempo, dois candidatos tão admiráveis. Optamos pelo acompanhamento do andor de Waldir Pires.
Agora, os artigos do senador, neste jornal, têm sido evangelho político dominical. Sobretudo quando se refere ao neoliberalismo temporão e à privatização da Petrobrás.
Publicou, no dia 14.5.95, o “Conservadores e Socialistas”, a propósito das eleições na França. Respiramos aliviados. Eis o político que não abjurou seus princípios. Sem temer o patrulhamento de direita, pior que o de esquerda, afirma, com a responsabilidade da sua vida: “...o socialismo democrático demonstra sua vitalidade. Repeliu o juízo pessimista e de interesse do individualismo dos que o consideram sepultado... Fator de paz e não de luta, o socialismo aspira sempre a igualdade possível, que dignifica o homem. Por isso não morre".
Continua na pujança da sua juventude intelectual. Não mudou. Sabíamos que os pássaros marinhos têm asas longas. E que a arapuca em que tentaram aprisioná-los era muito pequena para seus voos. Feliz de quem se conserva assim, apesar dos poucos equivocados em ilhas falsas do oceano. Mais valor teve o filho pródigo, que saiu da casa paterna, mas voltou.
Traz ainda as vestes brancas do albatroz daquele remoto dia, espigado (não vergou a espinha). Retoma à terra firme para nidificar.
Patrulhados, agora, seríamos nós se não o recebêssemos com a fé dos que acreditam no futuro.
Repetimos a parábola cá de fora:
"O bom grão deve ser guardado para que não se perca a semente".