O cacau, a cooperativa e a bruxa
Euclides Neto
A Tarde - Salvador-BA - 1990
A solução para a chamada crise do cacau passa pelo cooperativismo. Todos admitem que os maiores beneficiados com a agricultura são os intermediários. No caso da lavoura cacaueira deu-se a eles o pomposo nome de exportador, que, como se sabe, está no fim da linha da comercialização, instalado nas cidades e vilas principais, com suas matrizes e filiais, enquanto os retalhistas, atravessadores também, ficam na outra ponta, comprando quilos, trocados por mercadorias ou débitos contraídos pelos pequenos lavradores. Uns e outros, negociando em sacos ou mochilas, são os que mais lucram no Mundo do Cacau.
Ora, se houvesse entre os agricultores uma perfeita consciência do fato, todos venderiam o produto através das suas cooperativas, retendo os gordos lucros (sobras) para si. Nada mais fácil de ser compreendido. Significa dizer que o produtor exportaria a sua safra, sem intermediário, pois a cooperativa é o próprio lavrador.
Outro favorecido com a atividade é a indústria. Neste caso, teríamos a Itaísa, também indústria, cooperativa nossa, já funcionando, bem dirigida, apresentando resultados compensadores.
Se quiséssemos o luxo e o ideal de aplicar todos os valores das transações, poderíamos girar os milhões de dólares nas cooperativas de crédito. Tomaríamos emprestado o nosso próprio dinheiro para tocar a lavoura. Pagaríamos, bem verdade, os juros que rolam por aí, mas eles voltariam a nós em forma de sobras. Estaríamos, então, fechando o círculo da lucratividade.
Sem falar nas cooperativas de consumo: adubos, corretivos, pneus, ferramentas, comida, etc., etc., etc.
Depende de Governo? Não. Cooperativa que pensa em Governo não o é.
Isso é utopia, diriam os incrédulos; mas pratica-se em todos os lugares do mundo, onde há agricultura organizada. A estrutura já possuímos: instalada, funcionando, dando resultados. E, se os resultados não são melhores, é porque nos deixamos levar pela lábia organizada dos atravessadores, da propaganda solerte contra as cooperativas e da falta de capacidade de fiscalizar e acompanhar os diretores que elegemos, frequentar reuniões, assembleias, prestigiar os nossos representantes, entregando a safra, depositando o dinheiro, fazendo da cooperativa o nosso cofre e o nosso armazém de confiança.
Já se imaginou se todo o lucro levado pelas firmas exportadoras, as indústrias e os bancos, ligados à região, retornasse, através das cooperativas, para quem planta, zela, colhe e seca o cacau, transformado em exportador, industrial e banqueiro pelo cooperativismo?
Teríamos recursos para combater vassoura-de-bruxa e colocar a Ceplac (precisando de trato, mas de boa cepa) no seu lugar. E nos libertaríamos da crise!
Só depende de nós. Da nossa presença e confiança nas Cooperativas!