O Brasil é viável
Euclides Neto
Folha do cacau - Camacan - BA - 1985
O Ministro da Previdência Social é que demonstra, efetivamente, até aqui, para que veio a Nova República. Cumpre todos os anseios do povo que às multidões foi aos comícios em busca de moralização e eficiência de coisa pública, aí, sim, numa verdadeira revolução do vai ou racha. Ocupá-lo, contudo, seria a imolação de qualquer político. Quem o aceitou fê-lo como o suicida que se lança na guerra montado no torpedo. Esqueceram-se de que os grandes administradores são testados nas dificuldades maiores. Todos sem exceção, julgavam a Previdência como inviável, falida, em estado de coma, irreversível. Somente em 20 anos arrumar-se-ia o rombo de dez trilhões. Se arrumasse! Diga-se, para bem do veraz, que não foi só o triste trôpego troço de 64 que o corrompeu. Vinha de longe a fama de cevadora das caixinhas eleitorais. O mal se cronificou, agravado, evidente, pelo regime do cantil. Pois bem: bastou que um cidadão com fé em si e na pátria (será que até o nome Pátria não ficou piegas!), pleno de vontade de servir, carregado de idealismo (que ainda sabíamos existir nesses Brasis), para que, em oito meses, revertesse o estado de enfermo desenganado, hoje em total restabelecimento. Moralizou-se, venceu-se a septicemia, zerou-se o débito e o paciente está em franca convalescença para que possa trabalhar normalmente, voltando às suas reais atividades.
Quem o herói de tal façanha?
O MINISTRO WALDIR PIRES.
Milagre? Não, vergonha.
Provou que é capaz de administrar o inadministrável, de recuperar o irrecuperável. Levantou das cinzas em cadáver. Em pouco tempo. Sem mágica. Com trabalho, siso, temperança. Colocou todos os outros ministérios em xeque. Se o pior está salvo, por que o resto continua mais ou menos como antes? Se Alfonsim baixou a inflação de 1000 para vinte %, por que aqui ela continua em ascensão?
Daí o desejo de que ele, o herói, permaneça no Ministério e que o deixem trabalhar em obra tão séria. Temos as maquinações dos bancos (Magalhães Pinto ainda é vivo!), os donos ainda do poder econômico. Mas, até eles foram escorados pelo baiano. Valeria a pena ser Governador para conduzir a Bahia à última década do século, rompendo o atraso, o clientelismo e o julgo político que ainda usa o processo de antes de 1930. No entanto, o MINISTRO WALDIR PIRES deve lembrar-se de que o Brasil, como um todo, abrangendo, óbvio, o nosso Estado, carece também dele. Mais ainda. Se pensam em materializar o ideal que o acompanha desde a juventude, aí está campo largo, mar aberto: essa massa de doentes e aposentados, sucata de gente. Seu ministério é o responsável pelo tão lembrado “O HOMEM”, do qual todos os governos fazem questão de afirmar que é centro das atenções. Do mesmo homem que o regime de 64 torturou até à morte nas prisões e de quem extorquiu votos em troca de água de beber nas catingas esturricadas. Você, Waldir Pires, poderá ser o Ministro (não digo do século, para não cair no lugar-comum) que todo povo deseja nesse caos de regime hermafrodita, que se diz do povo pelo povo, porém que termina ficando no fim do século passado: em capacidade de fecundar a democracia social.
Fique lá Ministro Waldir Pires.
A Bahia merece você. E precisa. E reclama.
Fique lá, ainda, para que sirva de exemplo. E para provar que o Brasil é viável.
E não se esqueça de que as ideias não envelhecem. E seu corpo pode esperar ser o Governo da Bahia, logo mais: com toda a força espiritual da juventude.