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Museu do Lavrador

Euclides Neto

Cacau / Letras - Itabuna - BA - 1985

Franklin de Oliveira, autor do corajoso libelo “Morte da Memória Nacional”, ficaria contente se soubesse que em uma pequenina cidade do interior da Bahia, precisamente Ipiaú, existe um Museu. É que ele, o ilustre escritor, afirmava que uma nação sobrevive, essencialmente, pela sua cultura. Mesmo, evidente, a singela cultura de um taco da conhecida nação cacaueira. Claro que ninguém vai associar o Museu do Lavrador da antiga Rapa Tição, primeiro nome do município, ainda arraial, com o Louvre. Mas o de encantar é a participação do povinho miúdo, do artesão. Vegetamos numa terra em que o valor do indivíduo pesa o quanto representa na balança a sua safra de caroços. E só vale isto. É confortador, portanto, saber que a cultura mora na cabeça dos simples: da paneleira nagô que oferta alegremente suas loiças de barro (ainda usa o castiço de quebra), orgulhosa e honrada porque seu trabalho vai ser exposto; do ferrador de burros que doa martelo, grosa e torquês, instrumentos de seu ofício, nada exigindo em troca; do seleiro, velho de oitenta temporões, entregando a faquinha afiada de cortar couro, o amaciador de sola, a sovela, o cavalete, só porque lhe foi dito que tudo aquilo iria para o Museu do Lavrador, a fim de que as pessoas vissem e ficasse guardada a memória do tempo. Do caçador que deu a besta de madeira e relho de couro cru com que matava passarinho. Do trabalhador rural que pretendeu fazer um corimboque novo, já que o seu, muito usado (de mais prestígio, por sinal, para o museu), não prestava. Nenhum alegou que objetos tão modestos valiam pouco. Todos estavam convencidos da importância dos instrumentos do labor. E no meio das prensas de fumo, dos pilões de quatro bocas de café (simbolizando a exploração comercial), da rica biblioteca do primeiro médico da cidade, da tralha da velha farmácia, de preciosidades, até, lá estão as coisas feitas pelos negros, pelos ganhadores que vendiam a força do trabalho, pelos artesãos.

 Palmas, portanto, à obra do Prefeito Hildebrando Nunes Resende, preservando a memória da sua gente, apoiando a cultura da região do cacau. Tanto mais que a participação dos “fracos” prova a força da cultura, a perenidade do seu passado e a demonstração de que o tempo guarda somente o que o homem foi na cultura e sentimentos, jamais pelo que vale em moeda sonante do país.

 

  De 15 a 21 de julho aconteceu a Semana da Cultura em Ipiaú, com exposições de quadros, esculturas, declamações, apresentações de peças teatrais, promovida pelo jornal Rapa Tição.

 No dia 26 de julho, às 18 horas, no Rio Novo Tênis Clube, houve o lançamento do livro de poesias Espaço Perplexo, de autoria de Lúcia Martins: festejados versos inspirados em sentires e bucólicas de Ipiaú e arredores.

 

 

 No dia 26 de julho, às 18 horas, no Rio Novo Tênis Clube, houve o lançamento do livro de poesias Espaço Perplexo, de autoria de Lúcia Martins: festejados versos inspirados em sentires e bucólicas de Ipiaú e arredores.

 

ilustração: Adrianne Gallinari
Euclides Neto
Euclides Neto: Escritor, advogado e político da região de Ilhéus (1925-2000).