Mais sério que se pensa
Euclides Neto
Tribuna da Bahia - Salvador - BA - 1994
Pensando bem, o Legislativo é o poder maior em uma democracia. Pois que é ele o responsável pelas normas de conduta de todos, inclusive do Judiciário e Executivo.
Daí o pavor que sentimos pelas leis elaboradas pelos atuais congressistas, conquanto o quadro melhore entre os senadores.
Quando estoura uma falcatrua no País, com mais de três culpados, existe, pelo menos, um parlamentar no meio. No caso de José Alves, aquele que matou a mulher em Brasília, foi assim. Não nos referimos somente a escândalos, a Bernardo Cabral, agarramento de meninas alegres no Sambódromo, farra em motéis a três, coitos nos jardins, pecados carnais sujeitos à primeira pedra em Madalena. Trata-se do furto, do roubo, da formação de quadrilha, da conivência no jogo, com ramificações no tráfico de drogas, armas de contrabando e, por extensão, em assaltos e sequestros. A máfia do orçamento passa a ser peraltice de menino, bem como ausências às sessões (só comparecem entre as terças e quintas-feiras, formando insidioso e endêmico crime continuado de locupletação indébita), aumento dos próprios vencimentos, perdão de dívidas para com o Banco do Brasil, com devolução por este do que recebeu, com correção e juros, a partir de 1979. Uma ratazana, capaz de que mais? Se criarem outras tipicidades, estarão, no dia seguinte, envolvidos nelas. Agora, são os casos do concurso dos delegados do Rio Grande do Sul e do Tribunal de Contas do Amazonas.
Muitos são criminosos ativos. Outros, por omissão. E uns poucos, ainda bem, limpos de mãos e alma. Estes já ridicularizados, fora do tempo, resistindo bravamente. Pois bem, a maioria, capaz de tudo, é que traça o comportamento dos demais poderes. Que legisla, enfim. Que faria, ou fará, a revisão constitucional, se Deus não meter o braço no meio? Será que receberão dinheiro para servir aos oligopólios ou isentar empresas do aumento do Imposto de Renda? Ou para acabar com o monopólio estatal do petróleo, da Eletrobrás e das telecomunicações? O que serão capazes de fazer por dinheiro, já que desceram até ao requinte do narcotráfico? Já não exigimos competência e probidade, imploramos um mínimo de responsabilidade no trato dos interesses brasileiros.
E não podemos atacar muito para não enfraquecer a democracia e facilitar uma ditadura, onde nadarão em águas mais tranquilas, o que, aliás, desejam.
Alguns não aprovam a passagem do patrimônio público para seu próprio nome porque receiam a opinião popular e os bons jornalistas. Que diferença faz perdoar os próprios débitos e baixar tal dispositivo?
Temos que confiar, portanto, nos bons, que ainda existem. Defendê-los, votar neles, independente de partido, pois estão em todos; em uns mais que em outros, evidente. Votemos, votemos, votemos até a exaustão, pois só democraticamente chegaremos aonde pretendemos chegar. Não é possível que um dia o Brasil não