Fuga rural
Euclides Neto
A TARDE - Salvador - BA - 1995
Receio parecer disco arranhado: cansativa repetição da mesma nota musical. Não me contenho, e volto a falar de êxodo rural e reforma agrária.
Agora, não somente dos trabalhadores braçais. Os pequenos fazendeiros também estão deixando as roças.
Bem sabemos que ao acender os fornos da industrialização criou-se o sonho de enriquecer o País, com tecnologia para o campo, geração de empregos, saldo na balança. Na Bahia, com o Polo Petroquímico e o CIA levas e levas de trabalhadores rurais alojaram-se aqui, no que se chama Grande Salvador. Vieram mais que o emprego gerado. Claro: não somos contra a industrialização. Mas não nos esqueçamos: não há equilíbrio social sem que as rodas do veículo sejam do mesmo tamanho. Uma não pode ser maior que a outra.
A construção civil das cidades também chama, periodicamente, outro tanto, deixando seu rastro de desemprego com as constantes paralisações das obras.
A televisão e sua propaganda consumista foi siderando as almas simples lá de fora, atraindo-as para a ilusão do Éden impossível. Passou-se a ter vergonha de ser lavrador. Até créditos para a agricultura visavam mais à comercialização das máquinas que a própria safra. A industrialização pode ter rendido lucros, riquezas e impostos. Nada adiantou para a felicidade dos trabalhadores, que ficaram amontoados nas favelas.
Agora é o turismo. Sem qualquer planejamento social. Dizem que é tão milagroso que, sendo uma indústria (!), não polui. Emprega em todos os níveis: da faxineira ao poliglota, passando pelas alcovas das mulheres fáceis. Ninguém pode negar a necessidade da indústria de prata, alva e pulcra. Só que está engolindo imensos recursos: aeroportos internacionais, hotéis de luxo, recantos aprazíveis que atraiam os gordos e luzidos visitantes. E falta dinheiro para os lavradores, estradas vicinais, aguadas, escolas e postos médicos bem assistidos. Precisa-se fazer uma meia embreagem nesses equívocos. Uma simples assistência ao campo, incluindo a reforma agrária, sai mais barata, emprega mais gente, distribui melhor os lucros, economiza milhões de casas já prontas, hoje abandonadas, com o êxodo rural. Gera comida.
Esquecem-se que o nosso turismo é aleatório. Não tenhamos pejo de afirmar: falta-nos fortes atrações históricas como Catmandu, Roma, Madri. Esforçamo-nos para mostrar o Pelourinho. E daí? Fora da praia e do sol, a mudança de uma rota de aviões desequilibra tudo, desemprega. Esvaziam-se os hotéis de luxo. Fica a prostituição precoce, porque muitos para aqui vêm atrás do pasto fácil. E mais gente morando nas Cajazeiras, porque para o interior não volta mais.
Mas deixa impostos. Infelizmente menos do que vai custar em violência, desemprego, desabrigo, fome, com o êxodo rural.