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Escolha de um senador

Euclides Neto

Tribuna da Bahia - Salvador - BA - 1994

 

                O que se entende por um senador ideal? Inicialmente, alguém que entenda de legislação.

                Que tenha comportamento ilibado.

                Com uma história coerente, digna, sem deslizes morais e éticos. Que seja independente, livre de chefe e patrão dono de partidos e dos correligionários. Que, enfim, tenha personalidade para representar o Estado dentro da Federação. Sendo ao mesmo tempo um especialista em leis, capaz de rever os projetos saídos da Câmara dos Deputados. Jamais poderíamos escolher alguém que obedeça servilmente ao companheiro de chapa, pois que aí, em vez de dois representantes, teríamos um só, que manda, pensa por ambos — uma vontade única. Se o chefe é ruim, o súdito seria um contrapeso inútil e desnecessário. A subordinação deste é tão evidente que ele nem raciocina. Faz e sente o que o outro manda, com absoluta sujeição — um maria-vai-com-o-outro. Na hipótese absurda da eleição dos dois candidatos da coligação que a Bahia não Quer, teríamos somente dois senadores: o que já está no Congresso e o que ora se apresenta à frente das pesquisas.

                Não se pode comparar um cidadão que foi procurador geral da República, sofreu a perseguição do golpe militar, cassado, teve de exilar-se na França, onde foi capaz de ensinar Direito Constitucional com o outro — que desde os bancos escolares, denunciava os colegas à polícia para serem presos e torturados. Tudo visando as vantagens que o levaria depois a seguir o chefe, comparsa dos torturadores e golpistas, com fidelidade canina.

                Quem instaurou o governo democrático da Bahia, deputado, lutador permanente por um Brasil menos cruel para com o seu povo? Quem foi professor também de Direito Constitucional na Universidade de Brasília, capaz por mais essa razão de cumprir agora o seu papel de Senador?

                Que digam os eleitores. Será que Waldir Pires é o candidato ideal, capaz de, aí sim, mesmo com os salutares pontos de vista divergentes com o senador Josaphat Marinho (caído em um grande equívoco, mas mantendo o essencial da sua formação) representar a Bahia? Certamente sim.

                Estaríamos com um representante à altura do que a Bahia sempre mereceu: probidade, cultura, altivez, conhecimento da legislação, vida sem mácula.

                Chega de atraso clientelista, pior que o do século passado. Bajulação, visão pequena do mundo moderno, preocupação com as obras do Faraó, contratando grandes empreiteiras, que têm mais interesse em servir-se do governo, construindo em benefício de suas mineradoras, latifúndios, loteamentos, além dos lucros quase sempre divididos, enquanto o povo está na miséria, a agricultura abandonada, os recursos do SUS desbaratados, tudo com a conivência de quem se imagina moderno, mas no fundo não passa do que existe de mais retrógrado no Brasil.

ilustração: Adrianne Gallinari
Euclides Neto
Euclides Neto: Escritor, advogado e político da região de Ilhéus (1925-2000).