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Escolas de Agronomia

Euclides Neto

A TARDE - Salvador - BA - 1998

 

                Tenho notícia, pelo professor e escritor Hilmar Ferreira, que já houve em Juazeiro uma greve dos alunos de Agronomia exigindo estágios nos projetos oficiais de agricultura irrigada.

                Uma das maiores causas do insucesso da extensão agronômica é a falta de prática do técnico. O lavrador sabe mais que o doutor (o que felizmente não é a regra), pelo que o primeiro não acredita no que o último orienta. Assim como o escrivão do cível pode saber mais que o advogado. O agrônomo aprende muito nos compêndios e, de prática, vê somente o que o mestre planta no quadro-negro. Tem culpa? Não. Está no ranço histórico de que pegar na terra humilha, não é para os futuros diplomados, mas para os escravos do eito.

                Visitei uma universidade na Índia, em Ahmedabad, e vi dezenas de jovens limpando de enxada. Eram alunos do 1o ano. Talvez aí esteja a razão da pátria de Gandhi ter hoje em estoque 50 milhões de toneladas de grãos, o mesmo da Comunidade Europeia.

                Quando um esquisito prefeito, em Ipiaú, 1964, criou o Ginásio Agrícola, a meninada — macho e fêmea — aprendia a trabalhar nas leiras, tirar leite, cuidar de porcos, de galinhas, vacinação de animais, carpintaria, lidar com tratores e tudo o que se relacionasse com a terra. Pois bem, um descendente de senhor de engenho defendeu o seu pimpolho: — Se fosse para meu filho aprender a trabalhar na enxada, ficaria aqui mesmo na fazenda.

                Certo diretor de escola agrícola de nível médio se pavoneava de que vários alunos seus passaram no vestibular de Medicina, Direito e Engenharia. Por aí se vê que desconhecia completamente a finalidade do ensino médio. Fazia pior: aluno faltoso nas provas ou no comportamento recebia, como castigo, trabalhar no campo. Os estudiosos eram premiados com a ausência na roça e nos estábulos! Chegou-se ao absurdo. Felizmente, na Escola Média de Agricultura Chico Mendes, também em Ipiaú, o professor Anderson — soube que na de Itapetinga igualmente — pretende produzir o suficiente para não depender nem da Secretaria de Educação. Chega a elaborar projetos que solicitam ajuda até de entidades estrangeiras, com a participação dos docentes, dando-lhes, portanto, aulas práticas de como arranjar recursos.

                Sugestão: estreito entrosamento entre os órgãos oficiais (como os alunos de Juazeiro cobraram) com Embrapa, Ceplac, Ibama, Codevasf, IBDF, Incra, secretarias de Agricultura estadual e municipais para estágios. Teriam no futuro melhores técnicos na prática e fariam trabalhos a custo mais baixo. Além de descobrir pesquisadores tão necessários na área. Claro que a maioria dos profissionais é muito boa.

                Lembrar sempre: agrônomo ou técnico não tem que aprender somente, mas aprender a fazer e produzir, dando resultado econômico e social.

ilustração: Adrianne Gallinari
Euclides Neto
Euclides Neto: Escritor, advogado e político da região de Ilhéus (1925-2000).