Do cacau mole à ITAÍSA
Euclides Neto
Folha do cacau - Camacan - BA - 1986
Quem viveu pelo começo dos tempos desses boqueirões há de lembrar-se do heroico burareiro que não tinha condições de secar o seu cacau e o vendia mole apanhado na cama, medido em caixas coculadas. O comprador pagava o preço de quase-nada, preparava-o na estufa de chapa e lastro de claraíba preta, madeira cheirosa, eterna e incomburível. No tempo da surraca à cacunda, carne-jabá-sariguê-caça-moqueada-bom-sem-farinha; quando se veredeava pela mata crespa até Camamu trazendo chumbo-pólvora-espoleta, deixando conta corrente no livro débito-haver, somado na carretilha, seis anos depois, na hora de começar a pagar com os primeiros cocos de cacau — transação lembrando querido Banco do Brasil de antigamente.
Safras correram, e o burareiro já armava o seu jirau: taipa lastro de taboca trançada, cobertura de indaiá. Não havia chapa de ferro: o fogo se acendia no chão e o fumaceiro enxugava tanto quanto a quentura. O jirau também secava café, lavoura da moda, vinda com os tangidos pela decadência de Maracás, Areia, Jenipapo — Vale do Jequiriçá.
Rolaram pretéritos e não se via mais ninguém vendendo cacau mole. Depois atingimos o estágio das estufas sofisticadas, adaptadas à eletricidade, experimentadas no competente Centro de Pesquisas da Ceplac. E a própria tubular já cai no antanho, eis que outros melhoramentos são oferecidos, tirando o cheiro de fumaça, com melhor desempenho, menos consumo de lenha cada vez mais escassa. Até já se fala em computador.
Passamos décadas entregando o cacau em bagas às indústrias e exportadores (terceiro estágio do atraso). Hoje, felizmente, contamos com a esperança da ITAÍSA e, ao invés do cacau mole, o lavrador poderá, em futuro à mão, vendê-lo em forma de liquor, pasta, manufaturados vários, lucrando mais, tornando-se menos dependente, livrando-se do intermediário.
Evoluímos muito, evidente. Precisamos, agora, fazer costar à fábrica que é da lavoura. O bom desempenho da ITAÍSA depende do apoio dos agricultores: apoio material, moral, procurando escolher os dirigentes, fiscalizando com responsabilidade sabendo-se que o sucesso de qualquer organização não está só na diretoria, mas em todos os associados, que se devem comportar como se responsáveis diretos fossem.