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CPI do judiciário

Euclides Neto

A TARDE - Salvador - BA - 1999

A rigor, o Brasil precisaria de urna ampla CPI, abrangendo todos os setores da vida pública – desde do desemprego e fome, à do nepotismo dos que, sendo caciques políticos, sobretudo do Nordeste, nomeiam, digo, elegem os parentes e amigos, com o sobejo dos seus votos. E ninguém me venha dizer que irmãos, filhos, amigos, sobrinhos (nepos, – otis "sobrinho"), completamente desconhecidos, sem qualificação, mal saídos, às vezes, da casca do ovo, podem ocupar postos sem se configurar nepotismo. Nepotismo menor é o de alguém que, através de concurso, chega a determinados cargos e galga outros mais altos, com o prestígio do patriarca.

 A política brasileira tem suas modas. Agora, é a CPI. Houve também a dos dossiês, que caiu no ridículo.

 Daí a pergunta: o que anda escondido sob a do Judiciário? Apurar as pústulas da justiça? Certamente não. Dever-se-ia, antes, instalar a CPI dos corruptores da justiça. Mas, não interessa saber quem transforma o Judiciário em serviçal, conspurcando-o, zombando, até por sadismo, envolvendo cidadãos honrados (e existem muitos), desmoralizando-os, para nivelá-los ao seu comportamento amoral, tirando proveito. Fazem como o ladrão que subtrai o objeto e sai gritando: "Pega o ladrão"!

 Será que por detrás dessa CPI temporã (até se admita oportuna como tantas outras) existem outras intenções? Por exemplo: criar um fato político para desviar a atenção de um escândalo maior que começou a pintar no horizonte?; ou exibir-se como menino traquinas na presença de visitas de cerimônia, feito Itamar, que apareceu em todas as mídias das esquinas e becos do mundo, com a sua moratória (que, ao menos, sacudiu as autoridades brasileiras para refletirem sobre a instabilidade social e institucional do País)?; ou, quem sabe, aniquilar a Justiça do Trabalho, bem menos sujeita à influência dos tais caciques que não conseguiram dominá-la, como o fazem com a justiça comum, capaz de eleger candidatos derrotados e derrotar eleitos nas apurações eleitorais? Quem está preocupado com tanta moralização não é o mesmo que apoiou Collor – símbolo da corrupção?

 Bem, a nós, povo, fica o direito de conjeturar. E lembrar que a pior das corrupções é a da subserviência e omissão.

 Uma certeza existe: não é para lavar o Judiciário do lodo, pois que, antes, o próprio Legislativo precisaria de uma grande CPI e, sobretudo, repetimos, os corruptores do Judiciário.

 Debaixo desse pirão tem tripa.

ilustração: Adrianne Gallinari
Euclides Neto
Euclides Neto: Escritor, advogado e político da região de Ipiaú-BA (1925-2000).