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Cacau e Reforma Agrária

Euclides Neto

A Região - Itabuna - BA - 1998

Jornal A Região, 20 de julho de 1998

 

Os 7 países mais ricos do mundo a fizeram. Os Estados Unidos e a Alemanha, desde o século passado. Portanto, não é coisa de comunista.

No Brasil, se criou resistência contra ela, porque quem sempre a defendeu foram os chamados adeptos de Moscou. No Japão, o general americano MacArthur a implantou, após a Segunda Guerra Mundial. Enquanto nas nações desenvolvidas tudo acontecia pacificamente, aqui se propalou que a reforma só aconteceria como na Rússia, com sangue e mudança de regime.

Felizmente hoje há menos resistência. As Forças Armadas, um dos impasses, a defendem — é o que percebo nas repetidas palestras que faço para os alunos da Escola Superior de Guerra. E a Constituição de 88 exige que a terra tenha função social, sem o que não existe propriedade defensável.

Além do que, descobriram que a reforma interessa aos comerciantes, porque terão mais o que comprar e a quem vender; aos industriais que receberão mais matéria-prima e consumidores; aos bancos que colherão mais depósitos e os emprestarão; aos profissionais liberais porque atenderão mais clientes que possam pagar-lhes. E à sociedade como um todo, porque surgirão mais empregos, menos êxodo rural, violência nas cidades, problemas de moradia, transporte e abastecimento. Sem falar na justiça social.

Qualquer reforma no Brasil respeitará as fazendas produtivas. Os sem-terra não as ocupam. Só o fazem nas ociosas, porque o governo não se antecipou como no Primeiro Mundo. Até os grandes fazendeiros nada conseguem sem pressão. Di-lo a Bancada Ruralista no Congresso. O que também ocorre com as greves dos trabalhadores urbanos. Ou os saques dos famintos no Nordeste. Somente terras ocupadas, até hoje, foram desapropriadas, salvo algumas imprestáveis, através da corrupção.

Na zona cacaueira, está fácil a reforma. Centenas de fazendas à venda, em terrenos excelentes, com infraestrutura: estradas, bancos, eletrificação, consumo. Os donos precisam saldar dívidas, temem a vassoura-de-bruxa e não têm mais ânimo para trabalhar naquilo que é o pior negócio do Brasil — agricultura. Evidente, que maníacos pela terra, como o ora escriba, a conservará, mesmo dando prejuízo, como quem possui escuna — atavismo.

Não tenho a menor dúvida: se assentarmos lavradores autênticos em todas as terras expostas à venda, acabará a crise social da região. Movimentarão comércio, indústria, bancos e profissionais, desaparecerá a monocultura, as roças serão melhor assistidas pelo trabalho familiar, haverá diversificação de cultivares de quem mata a fome com o que lavra e vende o excedente, gastando tudo na região. Os autênticos fazendeiros produtivos ficarão em paz na sua lida, como nos países civilizados. Caso isso não venha, somente Deus sabe o que pode acontecer. (Capítulo do livro Trilhas da reforma agrária.)

 

ilustração: Adrianne Gallinari
Euclides Neto
Euclides Neto: Escritor, advogado e político da região de Ipiaú-BA (1925-2000).