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Automação e desemprego

Euclides Neto

A TARDE - Salvador - BA - 1999

 

                Parece que a lei existe para não ser cumprida. A Constituição Federal traz um artigo precioso. É o 7º, inciso XVIII — “proteção em face da automação...”. O trabalhador estaria assim resguardado contra a informatização ou mecanização (industrial ou rural), que lhe tirasse o emprego, essencial à sobrevivência, desde à fome ao descontrole emocional, causas maiores da infelicidade humana. As chamadas produtividade, competitividade e lucratividade são para o neoliberalismo o que a liberdade, fraternidade e igualdade foram para a Revolução Francesa, sendo que esta pregava a libertação do homem, derrubando privilégios e o primeiro gera os excluídos e os escraviza. A grandeza humanística e a injustiça social!

                Os insensíveis defendem o modelo econômico atual, qualificando os demais viventes de atrasados. Pretendem copiar os países ricos, sem se aprofundarem nas causas da miséria. Quando se trata da instalação de uma fábrica, fala-se na criação de empregos para justificar todas as desvantagens, como isenção de impostos para quem devia pagá-los, empréstimos desviados de áreas prioritárias, poluição, confinamento humano, violência. Preferem mostrar avanço tecnológico, substituindo os braços de músculos e veias, pelos os de aço e fios da informática dos robôs.

                A justificativa é a de que a automação produz mais e dá mais lucro. Só que esse resultado não é distribuído e se concentra cada vez mais no bolso de poucos.

                A dos bancos conseguiu renda espantosa, pouco importante que milhões de funcionários estejam na rua desesperados.

                A Lei Magna é a do mercado. O Artigo 7º da Constituição Federal foi revogado. Melhor seria que produzíssemos menos e aproveitássemos mais a mão de obra. Quando os ingleses pretenderam trocas as rocas por teares modernos. Gandhi resistiu. É que cada máquina arrancaria o trabalho de mil mulheres.

                As colhedeiras mecânicas estão substituindo os cortadores de cana, tornando suas vidas mais amargas. Aqui mesmo na Bahia se fez propaganda de uma máquina para colher feijão-gurutuba e a justificativa era que eliminaria a ocupação de 30 famílias, que ficaram sem salário para comprar o próprio feijão. Tudo isso descumpre a Constituição.

                Quando acaba, querem combater o desemprego e a pobreza. Quem já ouviu falar em um órgão que fiscalize a automação? Existe o Ibama, Procon etc. Bem ou mal, fazem cumprir as leis. A automação, pelo contrário, é estimulada, tida como sinal de progresso e motivo de orgulho. Modernização! É lugar-comum repetir que a máquina é para a felicidade humana e não para aumentar a fome e o sofrimento.

 

ilustração: Adrianne Gallinari
Euclides Neto
Euclides Neto: Escritor, advogado e político da região de Ipiaú-BA (1925-2000).