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Aspectos do cooperativismo na região cacaueira

Euclides Neto

A TARDE - Salvador - BA - 1995

 

As obras de aparência vêm dos áureos tempos do cacau. Fomos sempre índios pelo gosto de cocar multicolorido, para mostrar. Até a Ceplac, pela qual pego em armas para defender, abusou na construção do Cepec.

Levamos, então, o mal para o cooperativismo. Exemplo: uma cooperativa comprou dois caros prédios, onde funcionavam bancos, na rua mais importante da cidade. Construiu quatro ou cinco armazéns, que serviriam nas docas de Santos, em municípios vizinhos e na sede. Adquiriu terreno para um clube. Em um dos imóveis, instalou a administração do presidente, vários diretores e dezenas de funcionários, para o que se fizeram muitas adaptações, como gabinetes privativos. No outro, colocou a revenda de insumos (sal mineral, comum, arame farpado, adubo e o resto da tralha). Ora, a administração não carecia de tanto espaço, luxo e conforto, ocupando dois andares; e a venda de insumos, em vez de local tão dispendioso, deveria ficar em ponto mais modesto. Para os bancos estariam meio obsoletos, pois que precisam eles de vitrina chamativa à compra e venda de dinheiro. Além de o ganharem fácil, como mostram os balancetes, para uma cooperativa iniciante era estroinice. Uma multinacional chega na cidade e aluga, na mesma rua, uma porta e uma janela térreas, um armazém, três empregados, girando o capital na compra de cacau. A cooperativa imobiliza e fica endividada, sem recursos para o giro.

Alegava-se que era necessário adquirir imóveis, a fim de fazer cadastro bancário e levantar recursos. Acontece que enquanto os débitos inchavam com a gulodice banqueira, não dando para amortizá-los, o valor dos imóveis adquiridos minguava. E não se aplicava bem o empréstimo.

Acrescente-se: alguns grandes fazendeiros ficaram devendo cacau, que não puderam entregar, e 340 pequenos (prova de que o cooperativismo é possível) têm saldos da produção retida até hoje, pela inadimplência da cooperativa.

Mas não se diga que somente os presidentes, diretores e conselheiros foram culpados. O primeiro presidente é cidadão de ilibado comportamento e competência. Os demais também.

Nós, sócios, agricultores, somos os maiores responsáveis pelas falhas. Não comparecíamos em massa às assembleias nem às reuniões do conselho para cobrar, fiscalizar, sugerir, estimular, debater as transações, inclusive as dos imóveis. E, quando íamos, não participávamos como deveríamos. Botamos a cangalha nos responsáveis e ficamos de fora a criticar os insucessos, dando preferência às exportadoras na venda do cacau, quando as cooperativas, normalmente, oferecem melhor preço, classificação e peso.

 Cooperativa é também estado de espírito, de cooperação entre todos os interessados. Intensa participação. E sobriedade nos gastos.

Talvez agora, com a crise, acreditemos no cooperativismo, assim como os ingleses, quando precisaram se defender dos fortes concorrentes, o criaram.

ilustração: Adrianne Gallinari
Euclides Neto
Euclides Neto: Escritor, advogado e político da região de Ipiaú-BA (1925-2000).