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As escolas agrotécnicas

Euclides Neto

A TARDE - Salvador - BA - 1993

 

                Estão indo de mal a pior. EstioIam-se, conquanto visem implantar a anunciada modernidade no campo. Absorvem todos os vícios da “tecnologia” caipira local, sem mudar os métodos tradicionais. Claro que o técnico inteligente aproveita o que há de bom na sabedoria do lavrador. Mas o vigor da tradição é tão forte e o ensino escolar-teórico tão frágil, que aquele termina dominando este.

                Além disso, o aluno absorve a ideia de que é um futuro doutor de anel e diploma lustrosos. Portanto, não quer pegar na terra, no peito da vaca, na enxada, no cabo do biscó. Aprende-se a usar a palavra, mas não se exercita a prática das mãos. A escola precisa ser autofinanciada, como uma empresa, lutando para ficar com a renda, sem recolhê-la na vala comum do erário público, de onde jamais volta.

                Normalmente, os solos das agrotécnicas são esplêndidos. Contudo, compra-se grande parte do alimento destinado aos próprios alunos.

                Tais educandários deveriam ainda adotar um princípio fundamental: aprender a produzir, dando resultados econômicos e sociais. Não adianta aprender a produzir somente. É preciso aprender a produzir com lucratividade. Sem esquecer o social.

                O governo faz a instalação, povoa os estábulos, as pocilgas, os aviários, dá a terra, paga salários. Entende-se que a mão de obra deveria vir dos alunos, orientados pelos professores, porque só se aprende fazendo. O que não ocorre. Quase todo o aprendizado é feito no quadro-negro e nos compêndios. Vi em uma universidade indiana mais de uma centena de moças e rapazes na enxada e apanhando esterco. Estranhei e inquiri por que tantos trabalhadores contratados. Responderam-me, simplesmente: “São estudantes”. E a Índia já explodiu a sua bomba atômica, dominando, portanto, a tecnologia de ponta.

                Aqui, quando dá tudo errado, o pretexto para cruzar os braços é culpar o governo: falta pessoal de apoio, mas dispõe de centenas de braços aprendizes; falta adubo, mas existem professores que ensinam compostagem; as vacas não dão leite, mas elas estão morrendo de fome, com a capineira ao lado do estábulo.

                No caso da irrigação, se técnicos de outra área não instalarem os equipamentos, para tudo, porque quem ensina não sabe fazê-lo. E, consequentemente, não aproveita a própria implantação do sistema para ensinar.

                Diploma-se, então, o técnico incapaz de produzir dando resultados econômicos. Se vai trabalhar para si, quebra. E não encontra emprego porque o empresário prefere o capataz comum, semianalfabeto, mas prático e eficiente. Que sabe ensinar e fazer. Como em tudo, há as exceções.

                A culpa é de uma mentalidade deformada, preconceituosa contra o trabalho braçal. Precisa-se quebrar a corrente, pois o aluno de hoje será o professor de amanhã.

 

 

ilustração: Adrianne Gallinari
Euclides Neto
Euclides Neto: Escritor, advogado e político da região de Ilhéus (1925-2000).