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Adib Jatene e o imposto da saúde

Euclides Neto

Tribuna da Bahia - Salvador - BA - 1993

 

                Se existe alguém no Brasil que não traz um arranhão na sua honorabilidade e competência é o ministro da Saúde atual. Tornou-se lugar comum repetir os elogios após a enunciação do seu nome em qualquer parte – da mídia às conversas informais. Além do merecimento, muitos língua de trapos devem a vida a ele. Ainda bem. E calam-se.

                De cirurgião, sua fama corre mundo. É notória e reconhecida. Quem conhece o Incor sabe que nada existe de mais sério e democrático. Ali, nem de suicídio se morre, pois os médicos e enfermeiras sempre estão ao lado dos pacientes, vigiando-os. Como estrela maior, com Sérgio Oliveira e outros, Dr. Jatene. Merece a gratidão dos mais importantes políticos brasileiros, dos quais já recauchutou os sucateados corações. Pitangui também montou fama, mas sem a grandeza do acreano. Celebrizou-se pelo atendimento às artistas de Hollywood. Cuida de pelancas. Evidente que também conserta aleijões de nascença ou adquiridos. Quase sempre alimenta vaidades. Mas, Jatene cura o órgão que comanda a vida, salvando-a.

                Pois bem, se puserem o grande bisturi do Incor numa sala de cirurgia infeccionada, a sua técnica e habilidade nada farão. Trabalhará sem resultados. Ele, que é capaz de milagres, será vencido pela contaminação generalizada. Pela septicemia.

                Os aparelhos, as lâminas, os lençóis, as agulhas, o algodão, a gaze, enfim, tudo que está sendo usado na mesa, onde se processa a operação, anda contaminado por micróbios patogênicos. Existe pus por toda a parte. Até os ratos, numerosíssimos, portadores e transmissores de terríveis males, andam livremente pelo hospital. Daí a necessidade que o ilustre ministro tem de – e ele é capaz – lavar esse instrumental todo, mergulhá-lo em poderoso desinfetante, autoclavá-los. Escovar bem o piso, pintar paredes e tetos. Jogar fora muitos utensílios que não prestam. Quem foi capaz de sair do escondido Xapuri para chegar aonde chegou pode tudo. Mas tem de ser, além de um genial cirurgião, uma personalidade igual a Adib Jatene.

                Todos nós, que ainda temos muita esperança neste País, gostaríamos de recolher qualquer imposto para a Saúde, desde que administrado por um Jatene. Significaria insignificante parcela em dinheiro, paga indistintamente por quem opera em bancos, semelhante a um seguro, para tratar o grande enfermo chamado Brasil. Sobretudo cabendo maiores ônus a quem pode recolhê-los, mas que também faz parte do organismo doente como um todo. E, como tal, exposto à enfermidade.

                Antes, os ministros do Planejamento ou da Fazenda comandavam a mídia e eram tidos como, um ou outro, primeiro-ministro. O da Agricultura, da Educação e o da Saúde, tão importantes, nem lembrados. A forte liderança do professor Jatene está abalando até as decisões do próprio Congresso. Merece apoio e aplausos.

 

ilustração: Adrianne Gallinari
Euclides Neto
Euclides Neto: Escritor, advogado e político da região de Ipiaú-BA (1925-2000).