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Trilhas – orelha

Lourival Gusmão

Orelha em “Trilhas” - terceira edição - 2013

Dr. Euclides Neto, advogado de formação, portanto, conhecedor das leis, carregava na sua bagagem o peso da repressão de 1964 por ter experimentado, quando prefeito de Ipiaú, fazer a Reforma Agrária, atendendo as necessidades dos trabalhadores rurais sem terras e desempregados daquele município levando avante o projeto denominado “Fazenda do Povo”. Esta iniciativa, bem sucedida, fundamentou todo seu trabalho posterior, como também foi um dos motivos de investigação policial durante a ditadura.

Quando se lê “Trilhas da Reforma Agrária” observa-se o acúmulo de conhecimentos, de experiências de lutas populares, de convivência com representações das classes sociais. Sempre com o compromisso claro, transparente com os trabalhadores. Dr. Euclides Neto usava esta vivência adquirida sabiamente como grande ferramenta de diálogo e negociação entre fazendeiros e posseiros, sem medo. Buscava sempre a vitória dos que nada tinham ou tinham pouco: os sem terras.

A Secretaria de Reforma Agrária foi um avanço extraordinário para os movimentos sociais, mesmo que, boa parte se coloca como oposição ao governo Waldir Pires. Construíram-se diálogos, evitaram-se conflitos, ou seja, semeou-se um novo ambiente de relação entre Estado e sociedade na luta pelos seus direitos. A Reforma Agrária estava na pauta do governo Waldir Pires e fazia parte do DNA de Dr. Euclides Neto.

O autor passou gigantescas dificuldades que as estruturas do Estado, e ainda detém, para executar um programa que viesse beneficiar os mais pobres, sem contar toda batalha ideológica contrária, alimentada pela mídia e pelas organizações dos latifúndios e das forças atrasadas em todo país. Soma-se a tudo isso ao conservadorismo da Legislação Federal e a extraordinária burocracia do INCRA, ainda existente, para inibir o processo de Reforma Agrária no Brasil.

Pode-se dizer que muitas estradas já foram construídas de lá prá cá, mas muitos dos nossos ainda estão nas trilhas da reforma agrária ou acampados nos barracos de lonas pretas. Fez-se muito e os dados do INCRA indicam que vivem atualmente mais de um milhão de famílias, assentadas em áreas reformadas. É bastante, mas não é ainda a Reforma Agrária que queremos.

Ainda caminhando nas TRILHAS se verifica (Carta Capital de 29/07/2011) a existência de cerca de 4 milhões de famílias de trabalhadores rurais sem terras no Brasil, enquanto 175 milhões de hectares de terras são controladas por 66 mil fazendeiros improdutivos, o que entristece a todos. Ao mesmo tempo, assistimos ao processo de desnacionalização do nosso território sem um instrumento legal capaz de controlar e regular o uso das terras para capitais estrangeiros, estima-se que controlam aproximadamente 30 milhões de hectares.

O “TRILHAS DA REFORMA AGRÁRIA” NÃO ACABOU, ALGUÉM CONTINUARÁ ESCREVENDO

ilustração: Adrianne Gallinari
Lourival Gusmão: Agrônomo, assessor da Secretaria da Reforma Agrária no governo de Waldir Pires (1987-1989), Superintendente Regional em Bom Jesus.