Julia Teixeira Bussius
Orelha em “O tempo” - primeira edição - 2001
Nascido no povoado de Jenipapo, distrito de Areias (hoje Ubaíra), no interior da Bahia, no ano de 1925, Euclides criou-se na roça, fazendo lá mesmo seus primeiros estudos em escola de professora leiga. Mais tarde segue para Salvador ingressando no Colégio Padre Antônio Vieira para cursar o ginásio, resultado de imenso esforço financeiro feito por seu pai.
Forma-se advogado, na UFBA, em 1949 e assim segue por anos e anos defendendo todo tipo de causa justa (principalmente as dos mais necessitados). Passa em Ipiaú (região do cacau) a maior parte de sua vida, cidade onde se elegeu prefeito, à beira do golpe de 1964. Comunista declarado, bateu-se com o novo governo ao criar a “Fazenda do Povo”, primeira experiência socialista de distribuição de terras no Estado. Após os quatro anos de mandato, só volta à política no governo já democrático de Waldir Pires, quando ocupou a Secretaria da Reforma Agrária, causa que sempre defendeu incondicionalmente.
Neste meio tempo casou-se e multiplicou-se em cinco, que se multiplicaram muitas vezes mais (quinze netos). Nas poucas horas livres escreveu uns tantos livros, alguns artigos e cuidou de suas roças e cabras. Mais tarde, quando o tempo se fez maior, dedicou-se exclusivamente a essas últimas tarefas, o que lhe era sempre muito prazeroso.
Entre seus escritos estão romances, contos, crônicas e artigos de jornal, em sua maioria ligados aos temas da terra, dos trabalhadores rurais e da região do cacau. Assuntos aparentemente sem maior importância para os letrados são tratados por ele de forma belíssima e quase cinematográfica, sensibilizando desde o leitor mais urbanoide até aquele ligado ao campo.
Quando se pensa no ser humano Euclides Neto, faz-se uma ligação direta a relação homem/ética. Os caminhos que percorreu não deixam espaço algum para qualquer dúvida no que diz respeito a sua conduta humana em toda a trajetória vivida. Princípios como a tolerância e o respeito ao próximo foram sempre pregados e realizados em tudo que fez.
Uma vida tão intensa, sempre tão requisitada, fez com que o corpo não pudesse acompanhar a velocidade do espírito. Com o coração debilitado desde cedo e mais tarde tendo que lutar contra um mal maior, acabou tendo sua força consumida por essas doenças, vindo a falecer em abril do último ano do século XX, aos 74 anos.
Tal perda demora-se a assimilar. Porém, com essa publicação póstuma vê-se certa predição daquilo que ele imaginava acontecer… O tempo é chegado soa como um final satisfeito, concluindo uma vida plena, sem lugar para arrependimentos ou pesares. É como se ele dissesse: “Pronto, já posso descansar. Nada mais me falta”.