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Gumercindo Rocha Dorea

Orelha em “Os genros” - primeira edição - 1981

Não obstante tenha percorrido os mais estranhos países deste mundo, tais como a Índia, o Nepal, Austrália, Singapura, Tailândia, Japão, Macau, Taiti, terras da África, “sem contar as andarilhadas pelo Brasil em todos os seus confins”, Euclides Neto, como alguns outros escritores do sul baiano, ali nascidos — ele é de Ipiaú —, não exerce o seu nobre ofício de escritor fora do ambiente em que seus personagens vivem as suas vidas. A região do cacau, o homem e a terra de onde brota a árvore do fruto de ouro superam, como elementos principais de sua ficção, tudo o que se presume venha a ser uma pura criação literária. Conforme disse Fred Souza Castro, a propósito de Comercinho do Poço Fundo, “suas gentes ali estão, vivas, quase convidando o leitor para penetrar no livro e viver, com elas, as estórias/histórias que, com uma linguagem absolutamente sua, Euclides Neto sabe tão bem contar”.

E tão bem sabe contar que um dos personagens, o burro Boca Preta, cuja eroticidade assustava a pacata Poço Fundo, é motivo de estudo para uma tese, defendida por Wendel Santos, apresentada na 33ª reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência...

Os personagens principais deste livro, ora trazido a quem sabe ler boas estórias, estão bem presentes no título: Os genros. Embora integrem a galeria da extensa família humana, implicando, portanto, a composição do sem-número de figuras da literatura universal, não haviam sido ainda retratados na nossa — nem nas de fora — ocupando um lugar definitivo. Agora, porém, eles, Os genros, vieram para ficar, ao lado da Boa madrasta, de Xavier Marques, d’O primo Basílio, de Eça, d’O pai Gorriot, de Balzac, de O livro de uma sogra, de Aluísio de Azevedo...

Mas... não estamos nas mãos com um pequeno Decamerão brasileiro? Se, no tocante ao Comercinho, foi acentuado que, “depois de se lerem as primeiras páginas, dificilmente será posto de lado”, o que não diremos de Os genros? O picaresco, o dramático e o humorístico das situações retratadas — que não constituem, evidentemente, uma regra geral — vêm, às vezes, envoltos na vida diária, pelo “manto diáfano da fantasia”, o que não impede, porém, que revistam, sem-cerimoniosamente, momentos diversos na vida dos outros...

E tudo, situações e personagens, através daquela linguagem toda própria de Euclides Neto, o que lhe permite ser considerado “um dos grandes escritores da zona cacaueira”, como bem reconhece Torrieri Guimarães, e que, através das páginas de Os genros, mais se acentua, ampliando assim a sua contribuição para o enriquecimento da língua brasileira — que é a do nosso povo.

Aí está o livro. Uma longa, merecida e saudável trajetória ele terá, certamente, retrato que é de um aspecto da existência do homem, onde a alegria se mescla com a tristeza, o ridículo com o nobre, a bondade com a maldade —, e que, por isto mesmo, não tem por que ser afastada ou diminuída em seu significado...

ilustração: Adrianne Gallinari
Gumercindo Rocha Dorea
Gumercindo Rocha Dorea: Editor, escritor e jornalista