Haikais para Os magros
Abel Pereira
Artigo em “Os magros” - Rio de Janeiro - 1990
1
Caríssimo Euclides Neto:
Saúdo-o com muito afeto.
Deu-me o seu telefonema
Incontáveis alegrias
Sem falar nas demasias
De sua bondade extrema.
2
O Mundo, agora mais perto,
Perto cada vez mais, certo,
Já não passa de um nadinha...
Eis que sua longe fala
Pareceu-me vir da sala
Andando eu pela cozinha.
3
O telefone pedia
Com intensa simpatia
Escrevesse alguns haikais
Para o livro magistral,
Ponteando de cristal
Os enredos principais.
4
Gentilmente formulado,
Foi o pedido anotado
Como expressa louvação
Ao escritor coerente
Que se resolveu, assente,
Dar a Os magros reedição.
5
Quer você tirar Os magros
Daqueles antigos agros,
Hoje, extensos cacauais,
E fazer que os personagens
Em suas próprias roupagens
Desfilem nos meus haikais.
6
Esse pedir singular,
É de se não recusar
Pela honra que me concede...
Temo, contudo, que “engenho
E arte” faltem ao empenho
Da inspiração mais adrede.
7
À noite, pensando bem,
Rezando e dizendo amém,
Me bateu um forte estalo...
Consultado o travesseiro,
Sempre o melhor conselheiro,
Ele me fez aceitá-lo.
8
La se vão trinta anos idos
Que Os magros foram lidos
Sob a mais forte impressão,
E o Tempo, na sua andança,
Tirou-me farta lembrança
De uma bela criação.
9
E esperar a reedição
Para, com motivação,
Personagens reviver
E dos temas me lembrar...
Se mui bem os recordar,
Haikais hão de aparecer…
10
Eles, postos em opúsculo,
Bendirão o meu crepúsculo
Como valor compensado:
— Se a Os magros exaltei,
Seguindo romana lei,
Também me fiz exaltado!
11
Proposta mais que aceitável
Não só pelo toque amável
Como pelo tom discreto...
Aceite-a sem resistência
Por se tratar de emergência,
Meu prezado Euclides Neto!
12
Meu saudar mui cordial
Neste amanhecer rosal,
De esperanças bem repleto...
Tenha Os magros meus louvores
Pela gama dos primores
Que nos deu Euclides Neto!