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Euclides Neto vovô

Jorge Medauar

Artigo em “O tempo” - 2000

Alguma coisa

em Ipiaú aconteceu.

Não. Euclides não morreu,

apenas foi passear na caatinga.

Foi rever amigos, dar umas voltas

na praça e pelas ruas.

Depois, estendeu o olhar

para suas cabras, sentou-se.

Ficou refletindo sobre a vida,

sobre os homens. Seu olhar distante.

Longe. No poente.

Mas de repente, alguma coisa aconteceu:

o sol estava vivo, brilhante,

O dia claro. Derrepente,

escureceu. Mas Euclides

não morreu: está circulando,

revendo suas árvores, as cabras

que balem como que a gemer

saudades. Tudo agora é triste.

A morte não existe.

Aleluia. Aleluia. Euclides,

está chegando. O sorriso é o mesmo.

É o mesmo andar. A voz é a mesma,

meio alegre e meio triste.

Entardeceu

Em Ipiaú. Alguma coisa aconteceu.

Mas Euclides não morreu.

ilustração: Adrianne Gallinari
Jorge Medauar
Jorge Medauar: Escritor grapiúna e membro da Academia de Letras de Ilhéus (1918-2003)