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Dicionareco de muitos ecos

Jorge de Souza Araújo

Orelha em “Dicionareco” - terceira edição - Santo Antônio de Jesus - 2012

Não procurem os leitores deste livro a pompa e a circunstância dos manuais de sabença linguística, formal ou acadêmica. Também não se deixem enganar pelos truques arrelientos do autor, que pretende dissolver-se no éter, conferindo pouca importância ao que distribui no que chamou Dicionareco. Previnam-se contra a pretensão formalística e também contra o ludismo brincalhão e discretamente (auto)zombeteiro de Euclides. Leiam as linhas e as entrelinhas de uma obra que suscita nossas teorias de mundo (etimológico, social, humanístico, afetivo) tomando o sul da Bahia (“chão de cacau”, conforme o título feliz de Adonias Filho) como palco e plateia, fundo e forma, núcleo e periferia, centralidade e gravitacionismo de um universo multicolorido, grávido de lembranças e expectativas, abortado de iras da natureza e da tecnologia, planetário, minúsculo, capital e interior de nossas mais caras esperanças.

Para a perfeita leitura e absorção e o pleno gozo deste Dicionareco, dispensem-se de desculpas da falta de tempo ou especialidade. É obra dicionária de sociolinguística de uma região, mas pertence ao mundo dos espíritos otimistas, nadando de braçadas entre as letras acadêmicas e as poucas letras de quem ainda deseja aprender com gosto e fruir com sabedoria. Isso o Dicionareco tem de sobra. E quem o diz e assina as presentes traças muito se agradou por se ver assentado entre os grandes grandes (Amado, Adonias, Pólvora, Medauar e tantos outros), os escritores que Euclides Neto homenageia, informando na apresentação ter deles extraído boa parte dos étimos (líricos, prosódicos, afetivos, memoriais) de que se constitui este Dicionareco, cuja terceira edição aqui se celebra e queremos seja eterna presença em futuras gestações, pois que é manifesto de povo e de nação. É a nação grapiúna que sobrevive (sabe lá como!) de tropeços e arrancos lacrimais por entre pedras, de que a hostilidade climática e epidêmica da vassoura-de-bruxa (mas não só ela!) avassalou corações e mentes, e que este Dicionareco julga seu dever repatriar os males para o quinto dos infernos, trazendo, pela palavra, e a imagem, e a representação, e o símbolo, e o emblema, as identidades de resistência via alegria de ler, saber e compartilhar o glossário de humanidades contido em tão singular experiência.

Boa sabedoria faz quem o Dicionareco lê em paz.

ilustração: Adrianne Gallinari
Jorge de Souza Araújo
Jorge de Souza Araújo: Professor titular de Literatura Brasileira da Universidade Estadual de Feira de Santana. Poeta, ficcionista e estudioso da Literatura Baiana.