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Cooperativismo

Euclides Neto

em “Trilhas” - A Voz do GAC (Informativo de Monte Santo - Ba) - Monte Santo - BA - 1991

Não se pode fundar uma cooperativa com o espírito de quem abre uma casa comercial para vender e ter lucro. Nem se deve fazer como aquele político que um dia chegou para o responsável pelo cooperativismo no Estado e: ­-     quero 120 cooperativas na minha região.

A cooperativa nasce, como na sua origem, de uma necessidade, um estado de espírito, que levam um segmento da sociedade, todos com o mesmo interesse, a juntar-se para resolver dificuldades. Pode ser para construir casas, eletrificar uma área. Criar escolas e mantê-las. Ou, a mais comum, para produzir e comercializar produtos agrícolas, reunindo pessoas que precisam dessa união de interesses. Portanto, sem esta visão comunitária, diria mesmo altruística, não adianta fazer cooperativa. Nesta, não deve haver divergência, notadamente política. Todos podem professar o que entender, contanto que, ao sentar-se para pensar a cooperativa, o objetivo seja encontrar a melhor solução da causa comum. Exemplos: adquirir dois sacos de adubo sai caro e não tem transporte. Através da cooperativa adquire-se um caminhão do produto diretamente da fabrica. Vender poucos sacos de cereais ocupa a mão de obra e diminui o poder de barganha. A cooperativa recebe a produção de muitos, faz uma partida maior, e pode disputar melhor o mercado.

Aquilo que fica difícil, individualmente, torna-se mais fácil através de um representante de todos. Alguns pensam que, eleito o presidente de uma cooperativa, ludo fica resolvido. Não basta. . Ela só andará se todos colaborarem, fiscalizarem, sugerirem, acompanhando os passos dos dirigentes. Não adianta escolher o companheiro, pô-lo lá em cima e voltar para casa. Não é só a necessidade de policiá-lo, mas, sobretudo, de informá-lo do que se passa na área da organização: no plantio (perspectiva de safra, chuvas), na escrita, nos estoques, na comercialização.

Cooperativa é integração. Quando, por exemplo, ha corrupção em uma cooperativa todos têm culpa, porque não acompanharam devidamente os passos dela. Também não se faz cooperativa pensando no governo e na ajuda do banco. Ela tem de partir do principio de que, através da união (o que faz a forca), é possível resistir, resolver e sobreviver. O que vier de fora será bom aceito, mas não será a razão da sua existência.

Muito menos se funda uma cooperativa para empregar alguém ou empregar-se. Daí a necessidade de escolher bem quem vai dirigi-la: capacidade gerencial, probidade, bom relacionamento com a comunidade e, principalmente, participação efetiva nas atividades a serem defendidas. E olho nele!

Cursos sobre cooperativismo também são de uma importância capital. Só que devem ser ministrados por quem já dirigiu uma cooperativa bem-sucedida. Os teóricos devem ser ouvidos, de quando em quando, como sobremesa, somente para doirar os conhecimentos práticos do dia-a-dia.

ilustração: Adrianne Gallinari
Euclides Neto
Euclides Neto: Escritor, advogado e político da região de Ipiaú-BA (1925-2000).