Jairo Simões para Euclides Neto
Carta em “Comercinho” - carta - Bahia - 1981
Recebi o Comercinho do Poço Fundo no primeiro semestre do ano passado. Mas, vai daqui vai dali, vamos ver um fim de semana mais esticado e por aí vai, terminei de lê-lo somente no último verão, quando, como costumo fazer, deixei Salvador, com a família, por uma boa temporada.
Azar meu. Porque já podia ter desfrutado de uma das melhores leituras que já me chegaram às mãos. É uma delícia o seu romance e nele, sobretudo, você se mexe com a categoria de um mestre consumado. Parece mentira que aquele rapaz que deixara, há tanto de tempo, de trazer-nos, em livros, suas histórias e estórias, viesse agora com este retorno literário realmente espetacular. A utilização que você faz do linguajar regional — que flui, sem qualquer agressão ao texto — revela-nos um indiscutível Guimarães Rosa baiano.
Não me contive, durante a leitura, e grifei frases que me pareceram antológicas, tais como: "Para a frente é a nação de joão vermelho"; "Aqui e ali brotavam cidades como mijação de cavalo"; "... o horizonte não se distanciava sessenta braças"; "Eusébio, prosa, conta antigamentes..."; "Este mês estou mais puro do que cu de cabra no verão"; "Quanta à idade, já está bem descido do outro lado". A lista seria interminável.
Além do agradável que o todo nos propicia, há também passagens consagradoras. A "preparação" de "Vem-de-Longe", por exemplo, as vontades e reminiscências de Dona Alice (página 65), compõem um quadro de mestre — que, afinal, você o é, sem precisar pedir licença e quem quer que seja.
Os parabéns não devem ser para você, meu caro Euclides. Mas para os seus leitores. E garanto que, como eu, aqueles que leram Comercinho esperam, ávidos, pelos Os genros que, segundo sei, já está pronto.
Um abraço afetuoso do amigo e admirador.