Erico Nunes Pachêco para Euclides Neto
Carta em “Os magros” - carta - Rio de Janeiro - 1962
Meu caro Euclides,
Deixei para ler o seu livro quando tivesse um instante de calma, porque seria uma leitura diferente de todas as demais. Diferente, pelo reencontro do que existia de melhor, na sua pureza idealista, na sua ânsia de justiça, no seu inconformismo ante uma sociedade mais do que desumana, absurda, pois no seu desvairado egoísmo destrói-se a si mesma, o que neste nosso Brasil em que nada é levado a sério não será trágico, mas apenas caricatural, pelo reencontro com o companheiro de infância, que hoje, homem maduro, na plena expressão de sua potencialidade intelectual, conserva o mesmo entusiasmo, a mesma fé da mocidade.
Os magros é um livro cruel — no entanto, a crueldade não é dele, mas da vida, ou melhor, da distorção de vida nele retratada, de uma maneira original e sóbria, sem excessos de melodramas, vertente perigosa na qual muitas vezes se inutilizam bons temas.
O seu livro é um belo livro, meu caro, bem-estruturado, tecnica- mente bem-construído, fazendo um jogo de tese e antítese que torna mais aguda a sua temática, num protesto, transbordante de sinceridade, contra a agonia da subvida rural, escrito de uma maneira simples, sem retórica — enfim, o livro de um verdadeiro escritor.
Com os agradecimentos pelos bons momentos que me proporcio- nou, e os votos para que prossiga na caminhada que tão brilhantemente encetou, vai um grande abraço.