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Continua o mesmo

Euclides Neto

Tribuna da Bahia - Salvador - BA - 1995

                 Nós, cá do mato, dizemos que "raposa larga o cabelo mas não deixa de pegar galinha". Reparem o que vem ocorrendo com um político conhecido.

                 Ao ver um advogado acompanhando o cliente na CPI, não se conforma, chama-o de moleque e num arroubo manda prender o "cachorro". Nem a ditadura chegava a tanto (sinal de que naquele tempo pertencia ao pelotão do quebra e arrebenta).

                 Ao comentar a nomeação do diretor geral da Polícia Federal, quando até políticos que apoiaram o regime militar, inclusive o legendário general Newton Cruz, foram contra, saiu em defesa do ato presidencial. Como não cai uma folha da árvore do Diário Oficial sem a sua vontade, é de presumir-se que aprovara tudo. Tanto mais que tal cargo é muito útil.

                 Ao saber da reabertura do processo da bomba do Riocentro, dá uma de jurista e acusa o procurador de desconhecer a lei. Ora, todos já sabem que a farsa de incriminar os comunistas ficou desmoralizada. Mas a história reclama por uma palavra final, mesmo que ninguém seja condenado pelo ato terrorista.

                 Rebela-se contra o estado de direito democrático e acusa o Supremo Tribunal Federal de "guardião da corrupção, tipificando a liminar de criminosa e ameaça alterar a lei que a fundamentou. Já se pensou no risco do Legislativo modificar a norma toda vez que o Judiciário contrariar a sua vontade? É mais do que arroubo, chega ao absurdo... Porque já sente o cheiro do comando definitivo da presidência, pensa que tudo é possível – um Fulgimore apressado. Acusa ainda a Corte Suprema de ter agido de modo diferente contra Collor, sendo, aí sim, coerente com o apoio que sempre deu ao alagoano.

                 Considera-se o próprio Conselho Externo do judiciário baiano.

                 Afirma, franca e sinceramente (o que é uma rara virtude), aliás, que é o PODER.

                Sou mais o Bolsonaro, ao sustentar: teria sido melhor "se a ditadura tivesse matado mais gente". E, ao ver o padre torturado no Congresso, sentenciou: "É nisso que dá torturar e não matar", isto é, se estivesse assassinado, não estaria agora denunciando.

                 Pelo menos, o deputado insano não tem meias palavras. O seu companheiro de Congresso pretende ser o arauto da cidadania, da defesa dos direitos humanos e da moralidade. O discurso é o de Lincoln. Continua o mesmo. Tendo oportunidade, é capaz de fazer tudo aquilo que desejávamos que não acontecesse nunca mais.

                 Mas, "se queres conhecer o vilão, coloca-lhe o poder na mão".

ilustração: Adrianne Gallinari
Euclides Neto
Euclides Neto: Escritor, advogado e político da região de Ilhéus (1925-2000).