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Jorge Medauar para Euclides Neto

Carta em “Os genros” - carta - São Paulo - 1981

Tive a sorte de receber um dos primeiros exemplares produzidos pelo Gumercindo de seu romance Os genros. Comecei a ler assim como quem não quer nada, meio que desdenhando, já conhecendo a fraqueza de muitos que insistem, em nossa zona, a provar com livros que são mais ou menos analfabetos, péssimos romancistas, maus contistas, poetas sofríveis. E fui tomando fôlego, tropeçando com o estilo, descobrindo expressões originais, tudo isso numa linguagem inconfundível, de quem sabe manejar a língua como um velho profissional das letras. Não vou comparar você a ninguém, porque seu universo é seu, absolutamente pessoal. Dominando a língua, passando e vencendo situações que qualquer outro se estreparia, você é um desses contadores de história talhando para obras ainda mais robustas. Não sei mesmo se não será você o verdadeiro escritor moderno da zona, digo zona do cacau, não a outra, agora revivendo com sua inteligência, sua penetração crítica, seu olho de observador que enxerga, ao contrário de muitos que apenas olham e nada veem. E há uma poesia contida, mas muito presente até mesmo na síntese e na secura que você impõe no seu discurso, todo ele dosado, muito bem dosado pelo policiamento do escritor que não se autofascina. Graças a tudo isso — e a muitas outras sutilezas que pervagam nas entrelinhas e até mesmo nas sugestões que ficam na cuca do leitor — não vacilo em dizer e proclamar que você é o escritor moderno mais bem dotado de quantos estão perdendo o filão que ainda é a chamada “civilização do cacau”. Perdoe o derrame, mas meu entusiasmo precisava extravasar para que eu não enfartasse a consciência, depois que li Os genros. O que digo é o que sinto. E é o que penso em voz alta.

Parabéns, escritor Euclides Neto.

ilustração: Adrianne Gallinari
Jorge Medauar
Jorge Medauar: Escritor grapiúna e membro da Academia de Letras de Ilhéus (1918-2003)